Os cinco Skandhas, no budismo, são: forma, sentidos, percepções, formações mentais e consciência.
Forma: o seu corpo não é você. Ele é impermanente, muda o tempo todo e é parte de tudo o que existe a seu redor. Seu corpo é apenas um amontoado de moléculas, organizadas em células, cada uma com uma função, e em lugar algum de seu corpo é possível encontrar um único átomo que seja "você". Nenhuma forma é real, sólida e permanente. Uma árvore não é uma árvore, é um conjunto de infinitas coisas que chamamos de árvore.
Sentidos: Visão, audição, olfato, paladar, tato. Olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo. São as "portas de entrada das percepções". Não são você, são apenas impressões impermanentes e limitadas do mundo a seu redor.
Percepções: A projeção que sua mente coloca sobre as impressões captadas pelos sentidos. É impermanete, mutável e depende dos estados mentais que estão atuando em cada momento.
Formações Mentais: Seus pensamentos são impermanentes e dependem dos mapas mentais que estão atuando, das suas referências, memórias, energias, contextos, enfim, a sua mente cria e modifica as formações mentais o tempo todo e elas não são você.
Consciência: Ela é impermanente, depende de seus conhecimentos, da sua atenção e no que você está focado no momento. Quando você está inconsciente, ainda assim continua vivo, portanto, sua consciência não é você.
Nos últimos noventa dias, tenho observado a minha mente em detalhes, tentando organizar as coisas e entender o funcionamento da mente. Acabei fazendo um mapa mental bem interessante, que começa com as formas, os sentidos, passa para as percepções, para a formação mental e, por último, para a consciência. Entendi que, em síntese, nada mais era do que a descrição dos cinco Skandhas, já estudado exaustivamente há milhares de anos pelos filósofos da India. O budismo incorporou os cinco Skandhas por entendê-los como verdadeiros, e minha própria experiência também levou ao mesmo entendimento.
Esse é o mapa que fiz desse estudo:
Então, vou manter esse mapa, explicando em detalhes cada um dos itens de acordo com o meu entendimento. Segundo os cinco Skandhas, eu deveria começar pelas formas, mas vou abordar as formas em uma futura postagem sobre o Prajnaparamita. Vou seguir meu estudo, começando pelos cinco sentidos:
Visão: nossos olhos enxergam a refração da luz sobre as moléculas, conforme aprendemos na escola: um raio de luz é refletido pela molécula, e sua cor e intensidade dependem do ângulo do nosso olho em relação à molécula e à fonte de luz, das propriedades ópticas do meio, da velocidade da luz no meio, e do desvio de direção do raio de luz. Assim, uma fonte de luz branca intensa pode bater na molécula, ser refletida e chegar a nossos olhos com uma cor vermelha fraca, por exemplo. Mas a molécula, em si, não tem cor nenhuma. São apenas partículas infinitamente pequenas em um vasto espaço vazio. A cor da molécula depende unicamente da refração da luz que incide sobre ela. Assim, uma azeitona, por exemplo, não possui cor nenhuma em si. Mas a luz que reflete sobre suas moléculas nos dá a impressão de que ela é verde. Se desligarmos as luzes, não enxergamos mais a azeitona, mas ela continua ali, exatamente igual. Se jogarmos uma luz colorida sobre ela, ela terá uma cor diferente do verde. Nossos olhos apenas captam essa refração da luz, montando um quadro de cores que será interpretado pelo nosso cérebro. A propósito, nós enxergamos tudo de cabeça para baixo e invertido. Nosso cérebro é que ajusta essa imagem, "desinvertendo" ela, sem que sequer a gente perceba isso. Ademais, não conseguimos enxergar todo o espectro de cores existentes, apenas as que estão acima do infravermelho e abaixo do ultravioleta.
Audição: Tudo o que existe no Universo é frequência. Os átomos se movem em determinadas frequências, assim como todos os materiais, planetas e galáxias inteiras. A Terra "respira" em frequências de 26 segundos e isso já foi até constatado pelos cientistas. As frequências produzem deslocamentos no ar, chamados de ondas sonoras. Nossos ouvidos possuem pequenos ossinhos e membranas que são capazes de captar essas ondas, interpretando-as como som audível. Temos uma capacidade bastante limitada para as frequências sonoras que somos capazes de ouvir: apenas os sons entre 20 hertz e 20.000 hertz. Por isso, não escutamos os apitos para cachorros, por exemplo, nem a maioria das ondas sísmicas da Terra, captadas normalmente por quase todos os animais que existem. Também não ouvimos sinais de rádio nem de microondas, que apesar de serem frequências eletromagnéticas, não produzem ondas sonoras. Essas frequências podem ser captadas e interpretadas por mecanismos específicos, como o seu celular, por exemplo, mas não pelos seus ouvidos.
Olfato: As propriedades organolépticas dos elementos químicos podem ser percebidas pelos sensores olfativos que temos em nosso nariz, com maior ou menor precisão dependendo de cada indivíduo. Os elementos químicos possuem uma certa volatidade, ou seja, eles "evaporam" em moléculas que podem ser carregadas pelo ar. Quanto mais volátil for o material, maior o cheiro que sentimos. Por isso o vidro não tem cheiro, afinal, sua volatilidade é quase nula, enquanto sentimos muito intensamente o cheiro de gasolina, pois ela evapora com facilidade. Cada molécula possui uma característica organoléptica própria que a identifica, e nosso cérebro aprende a identificá-las. Dessa forma, quando sentimos cheiro de laranja, sabemos que é cheiro de laranja porque já sentimos esse cheiro antes e conseguimos identificá-lo como tal. Mas nosso olfato é muito limitado. Aves de rapina conseguem sentir o cheiro de um animal morto a quilômetros de distância, cães possuem um excelente faro e são capazes de seguir rastros usando apenas o olfato. O nosso espectro olfativo é bem restrito e, por isso, não sentimos o cheiro do monóxido de carbono, por exemplo, que é um gás tóxico e mortal.
Paladar: nossas papilas gustativas são capazes de identificar e combinar os vários sabores, que podemos classificar genericamente como: doces, azedos, salgados, amargos e umami. Para quem não sabe, "umami" é conhecido como o "quinto sabor" e descreve uma sensação saborosa e carnuda que intensifica outros sabores. É detectado através de aminoácidos como o glutamato, encontrado em queijos, tomates maduros, carnes e cogumelos. Mas nosso paladar é muito restrito. Ao tomar um copo de água, não somos capazes de identificar com muita precisão os elementos que estão nela. Apenas pessoas com um paladar muito apurado e após anos de treino é capaz de diferenciar um determinado vinho em comparação com outro do mesmo tipo.
Tato: Por ser o mais antigo e primordial de todos, o tato é o mais preciso e complexo sentido que possuímos. Conseguimos sentir o toque mais suave da mais leve pluma em nossa pele. Sentimos quando algo está quente ou frio, se é duro ou mole, áspero ou liso. Sentimos as formas dos objetos que tocamos, até o ponto de conseguirmos ler textos em braille. Por ser tão intenso e primitivo, o tato é o principal sentido que nos desperta a sensualidade. Mesmo assim, não somos capazes de entender que a solidez dos materiais é apenas uma repulsão eletromagnética em nível atômico. Pegamos uma pedra na mão e a sentimos como sólida, mas se observarmos essa mesma pedra em um microscópio eletrônico, veremos apenas moléculas organizadas, mas com vasto espaço vazio entre elas. As moléculas se atraem e se organizam, criando uma superfície de repulsão que apenas sentimos ser sólida. Uma janela de vidro parece ser sólida, mas conseguimos enxergar através dela, ou seja, há espaço entre as moléculas suficiente para que a luz a atravesse normalmente. Um raio x consegue atravessar nosso corpo como se fôssemos feitos de gelatina. Aquilo que nosso tato nos diz que é sólido, na verdade não é tão sólido assim. A água é líquida, mas abaixo de 0ºC, suas moléculas se organizam de outra forma e ela fica sólida. E, acima de 100ºC, vira vapor. Mas continua sendo a mesma água, a mesma molécula, apenas organizada de forma diferente. Nosso tato não consegue entender isso muito bem.
Há ainda outras percepções que extrapolam os cinco sentidos, que chamamos de "percepções extrasensoriais", como a telepatia e a clarividência, mas vamos nos ater apenas aos cinco sentidos tradicionais.
Resumindo, os cinco sentidos nos trazem informações a respeito do mundo ao nosso redor, de forma limitada e obtusa, mas suficiente para conseguirmos entender o ambiente e interagir com ele. Nas próximas postagens, abordaremos a forma como nossa mente percebe e interpreta essas informações.
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