segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Decifrando a mente #4 - Os gerentes

 

Então, as formas ao nosso redor nos vêm através dos cinco sentidos e nossa percepção seleciona aquilo que acha que é importante, passando para os estagiários do piloto automático decidirem o que fazer.

Mas os estagiários não sabem resolver tudo e, muitas vezes, possuem cartas com informações erradas, inapropriadas, contraditórias ou insuficientes. Além disso, frequentemente eles não sabem o que fazer. Nesses casos, é necessária a intervenção de um gerente. O grande problema é que nossa mente possui DOIS gerentes, mandando da mesma forma nos mesmos estagiários: o gerente das emoções e o gerente lógico.

O gerente lógico é aquele cara chato. Ele tem um dicionário, uma calculadora, uma planilha, uma agenda, uma lista de tarefas e outras tantas ferramentas para ajudar nos cálculos e decisões racionais exigidos pelas demandas diárias. O gerente lógico é lento, metódico, preso a cronogramas e fluxogramas. Suas decisões são frias e racionais. Ele não sabe se divertir e não sabe o que fazer em situações que exigem mais emoção do que razão. E ele também comete erros em seus cálculos. É como um capricorniano com ascendente em virgem.

O gerente emocional é um pisciniano com ascendente em aquário. Ele chora, ri, se emociona. Ele brinca, canta, desenha, pinta. É um artista, um ator, um poeta. Ele vê a beleza das coisas, ele ama e se apaixona, mas ele também odeia. Ele briga, discute, quebra coisas, fala verdades e inverdades sem pensar, ele machuca, ele humilha, ele mata. O gerente emocional é muito rápido, espontâneo e briga o tempo todo com o insuportável do gerente lógico. 

Só que o gerente emocional tem uma coisa que o gerente lógico não tem: acesso à energia.

Se você estiver na véspera de uma prova importante, o seu gerente lógico vai querer atravessar a noite estudando. Mas o gerente emocional quer ir pra uma festa. O gerente lógico reclama e diz que não vai sair de cima dos livros. Aí, o gerente emocional desliga o gerador de energia, você fica com sono e dorme sem conseguir estudar. Pode ter certeza que, se decidisse ir à festa, você não estaria com sono.

A "energia" aqui é interpretada da mesma forma que o tantra tibetano: são os lungs que nos movem entre tristeza e alegria, apatia e euforia, amor e ódio, paz e raiva, aversão e desejo. O tipo de energia e sua intensidade influenciam o gerente emocional, que pode ou não alterar tanto o tipo quanto a intensidade dessa mesma energia.

Por exemplo, vimos alguém maltratando um cachorro. Imediatamente sentimos raiva dessa pessoa e queremos arrumar briga com ela, é a resposta automática a esse estímulo, é nosso impulso. Mas o gerente emocional pode entender a situação e trocar o ódio pelo acolhimento e pela proteção, se perceber que o cachorro estava atacando a pessoa antes e ela estava só tentando se defender, e assim tomar outras medidas.

Como o gerente emocional tem a chave do motor de energia, é através dele que nosso progresso espiritual ocorre. O gerente lógico só consegue ir até uma parte do caminho: ele pode memorizar textos e livros sagrados, pode recitar salmos de cor, pode até entender logicamente como todo o caminho deve ser percorrido. Mas ele não consegue ir adiante. Sua importância é fundamental, pois sem o mínimo conhecimento do caminho não há possibilidade de progresso, mas o caminho deve ser percorrido usando o gerente emocional.

Buda ensinou sobre as quatro nobres verdades, e esse é um conhecimento lógico: Dukkha existe, tem uma origem, pode ter um fim e há um caminho para esse fim. É racional, é lógico, e o papel do gerente lógico termina aí. O caminho de oito passos precisa ser trilhado pelo gerente emocional: transformar as ações negativas de corpo, fala e mente em ações positivas, praticar a meditação e alcançar a sabedoria.

Por exemplo, a Fala Correta: paramos de insultar, de caluniar, de mentir, de agredir verbalmente as pessoas, sejam quem forem e, ao invés, passamos a enaltecer, a elogiar, a falar e defender a verdade, a empoderar e a motivar, sempre para o maior benefício a todos os seres. As fichas dos estagiários vão sendo substituídas, uma a uma, com reações mais favoráveis e mais apropriadas nesse sentido. 

Enfim, os gerentes lógico e emocional são, normalmente, dois brigões que se detestam. Mas ao percorrer o caminho espiritual, eles vão se apaziguando e entrando em acordos. Ao fim, são como dois irmãos, pois possuem o mesmo objetivo e obedecem a um Senhor maior, que é a Consciência. Mas antes de vermos sobre a consciência, vamos estudar outros aspectos interessantes da nossa mente, como o Macaco Louco, na próxima postagem.




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