terça-feira, 6 de novembro de 2012

Respiração Consciente

Independente de religião ou de linhagem, existem incontáveis técnicas de meditação que dão especial enfoque à RESPIRAÇÃO. Algumas dessas técnicas baseiam-se na visualização do ar puro entrando pelas nossas narinas, descendo até o pulmão, purificando nosso corpo e devolvendo ao meio ambiente o ar impuro.

Se imprimíssemos todas as técnicas de respiração conhecidas, certamente precisaríamos de toneladas de papel.

Mas a melhor técnica de respiração que conheço é ENTRAR EM SAMADHI, pois automaticamente você corrige sua postura e respira corretamente, sem qualquer artifício. Se você está contemplando as montanhas distantes, você está respirando as montanhas. Se está observando o mar, está respirando o mar. Assim, você se torna  montanha, você se torna mar, não há diferenças.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A beleza a cada momento

O zen budismo muitas vezes é rotulado como uma religião sem cor, sem vida, sem beleza, com uma prática austera, longos períodos de meditação de frente para uma parede branca, longos e cansativos sesshins, muito silêncio. Uma coisa sombria.

Isso está muito longe da verdade. O zen é uma filosofia lindíssima, cheia de vida, de beleza, de alegrias e de fartos sorrisos. Basta procurar no Google Images por 'praticante zen' e você verá centenas de rostos sorridentes.

Na verdade, quanto mais o praticante se entrega à prática, mais beleza ele passa a ver a seu redor. A beleza que sempre esteve lá, mas que agora ele passa a perceber. Todo o final de tarde temos um maravilhoso espetáculo muito colorido, com o entardecer escondendo o sol atrás de nuvens douradas e púrpuras. Isso é maravilhoso, acontece todos os dias, mas se não percebermos o ocaso, como poderemos apreciá-lo?

Da mesma forma, uma simples fatia de pão com manteiga e mel nos traz um indizível prazer. É uma estupenda delícia! Porém, como na maioria das vezes estamos sonâmbulos ao nos alimentar, não percebemos as nuances dos sabores deste tão simples e tão apetitoso prato. Somente se estivermos plenamente despertos durante as refeições perceberemos todos os sabores, as texturas, a temperatura da comida. E estaremos também conscientes do fato que milhares de pessoas contribuíram para que você tenha esta refeição. E como desejar ter toda a comida só para si, sabendo que houve o esforço de tantas pessoas, e que esta comida é tão boa? Não, você vai querer dividir a sua refeição com outras pessoas, outros seres, e isso torna cada refeição absolutamente maravilhosa e única.

Fazemos uma série de coisas 'chatas' de forma mecânica em nosso dia-a-dia. Escovar os dentes, tomar banho, trocar de roupa... todas essas tarefas podem esconder belezas surpreendentes que só podem ser vistas com a plena atenção no momento presente.

Sim, a prática zen é lindíssima, maravilhosa, cheia de beleza, ternura, bondade e compaixão. Cada segundo que olhamos para uma paisagem é um raríssimo quadro que, se pintado, poderia valer milhões de dólares, pois no segundo seguinte já não existiria mais. O momento presente é a coisa mais volátil e perfeita que existe. Apreciar cada momento é viver com sabedoria e beleza, e vivendo assim somos absolutamente felizes, riquíssimos e nos tornamos potencialmente úteis para toda a humanidade.

Que todos se beneficiem.


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A rede de relacionamentos

Hoje, durante minha meditação noturna, tive um insight bem interessante.
Os nossos egos se associam com os egos das outras pessoas. É fascinante perceber e estudar estas ligações, e nosso convívio familiar é um prato cheio para esta prática.
Quando estamos conscientes, conseguimos perceber com clareza as ligações dos egos entre as pessoas. Essas ligações são complexas e chegam a criar uma espécie de "teia", uma verdadeira rede. Quando não estamos conscientes (ou seja, 99% de nosso dia), nossos egos se associam a esta teia e acabamos também enredados. Fomos fisgados, estamos presos na teia. E aí começam todos os problemas, originam-se discussões, agressões e sofrimentos de toda sorte.
Em japonês, existe uma palavra chamada TODATSU, que é uma abreviatura ao termo TOTAL DATSURAKU. O termo quer dizer algo como "todo o corpo completamente limpo e renovado", ou "a mente pura que vai além". O termo é associado à imagem de uma carpa que escapa de uma rede. Pois foi exatamente esta imagem que me veio à mente ao contemplar a miríade de associações egóicas existentes em nossa família. Uma vez que estou consciente dessas conexões egóicas, posso me tornar livre delas, não ser atingido, não ser preso na teia, e escapar desta rede como se ela não existisse, exatamente como a carpa caracterizada na palavra TODATSU.
Portanto, quando você perceber que está sendo "enredado" em uma discussão em sua família, em seu grupo de trabalho ou com seus amigos, procure tomar consciência dos egos envolvidos, das associações egóicas, da rede que se abre sobre sua cabeça. Tome a necessária distância para agir com clareza e escapar desta rede, neutralizando-a e, se possível, usando esta oportunidade para gerar benefícios às pessoas envolvidas.

Meditação Expressa: Pequenos Momentos Iluminados no dia-a-dia

Independente de qualquer religião ou filosofia, a meditação traz inúmeros benefícios para quem a pratica, estendendo-se para todas as pessoas próximas como ondas em um lago.
Ao praticar meditação por 40 minutos, todos os dias, em algumas semanas ou meses já começamos a perceber em nós mesmos algumas mudanças. As pessoas ao nosso redor também percebem e passam a comentar: "Você está mais calmo", "Você está mais feliz", "Há um brilho em seus olhos" e coisas assim.
Com a prática constante, em poucas sessões (talvez já nas primeiras) conseguimos experimentar a "mente silenciosa": por alguns instantes, a torrente de pensamentos em nosso cérebro cessa e então surge um silêncio, um momento de profunda paz.
Um pouco mais adiante, experimentamos o Samadhi, que é um momento (cerca de 5 segundos) no qual estamos plenamente presentes no aqui-agora e conscientes. Não há passado nem futuro, apenas o momento presente. Aproveitando o ensejo, certa vez imaginei como seria um RELÓGIO DE BUDA: um único ponteiro com uma única marcação: o momento presente. Pense nisso!
Com alguns meses de prática, podemos ter alguns insights, que são momentos rápidos nos quais vislumbramos a realidade, percebemos a verdadeira natureza de alguma coisa (uma flor, uma árvore, uma nuvem, um inseto, qualquer coisa) ou simplesmente descobrimos a solução para um problema. É algo como fazer 'cair a ficha'. Em um insight, geralmente pensamos: "Ah, então é isso!". Nos primeiros insights, é comum ficarmos muito sensíveis e até desatarmos em um choro profundo e incontrolável. Depois esses momentos tornam-se mais "normais", pois passamos a nos acostumar com eles.
Talvez após alguns anos de prática, o praticante tem um Kenshô, que é a visualização direta da iluminação, um estado plenamente iluminado, que dura de 20 a 30 segundos, e de indescritível bem-estar, no qual desaparece a dissociação eu-outro, ou sujeito-objeto. Tornamo-nos plenamente conscientes da unidade e interdependência de todas as coisas, a mente está sob total e absoluto controle e sentimos pela primeira vez o que é realmente a "felicidade". Entendemos o significado da palavra "interser": Passamos a SER com todos os demais seres.Todas as coisas são perfeitas como são, é um momento no qual estamos plenamente acordados e conscientes, vivendo em nossa verdadeira natureza, é a experiência do vazio, ou seja, a ausência absoluta de qualquer ego. Ao termos um Kenshô, simplesmente sabemos que a iluminação é realmente possível, pois acabamos de experimentá-la.
Após muitos e muitos anos de prática e depois de sucessivos kenshôs, então o praticante pode repentinamente despertar sua verdadeira natureza. É o Satori, a total iluminação. A partir deste momento, o praticante está totalmente livre, plenamente consciente, na mais absoluta felicidade. É o Nirvana.
Voltando ao ponto de partida, para quem está iniciando na prática, ou mesmo para quem já tem uma certa experiência, é fundamental trazermos o Samadhi para nosso dia-a-dia. Particularmente, eu programei meu celular para tocar um sinal a cada hora. Escolhi o som de um relógio-cuco. Quando o celular toca o 'cuco', qualquer pessoa pode achar até engraçado, é um som tradicional informando a batida de um relógio, uma simples mudança de hora, mas para mim este som tem um outro significado: É hora de parar um pouco, corrigir a postura, alinhar a coluna, respirar profundamente e instalar rapidamente um pequeno Samadhi. Todo o processo não demora mais de 30 segundos e é fundamental para tomar consciência de onde estou, do que estou fazendo e das pessoas que estão à minha volta. Meu serviço rende muito mais, fica mais organizado e trabalho melhor com as prioridades. Ao final do dia não estou tão desgastado, tive vários momentos 'iluminados' e conscientes durante o dia e aproveitei melhor as oportunidades. E até pelo fato de ter corrigido minha postura várias vezes durante o dia, não sinto mais tantas dores nas costas.
À noite, a meditação é mais fácil, mais profunda, mais intensa. Pego no sono mais rapidamente e meu sono é mais profundo, mais relaxante, mais restaurador. Tenho dormido menos: cerca de 5 horas são suficientes.
Tudo isso deve-se à prática de pequenos momentos de meditação durante o dia. Eu chamaria de 'meditação expressa', ao melhor estilo ocidental. Não custa nada, funciona, é prazerosa e altamente benéfica.
Experimente você também!


terça-feira, 18 de setembro de 2012

O EU é ilusão

Inumeráveis textos da literatura budista (e de outras religiões) repetem incansavelmente que o EU É ILUSÃO. Mas enquanto não compreendermos isso, estas são apenas belas palavras que podem ser impressas, emolduradas e penduradas na parede.

Precisamos compreender profundamente o verdadeiro sentido desta afirmação. Esse é o primeiro passo para entendermos e aceitarmos nossa condição atual, a fim de nos libertarmos das amarras que encobrem nossa verdadeira natureza como as cascas de uma cebola.

Gautama Buda alcançou a mais profunda compreensão da realidade e afirmou: "Maravilha das maravilhas. Todos os seres são completos e perfeitos, dotados de virtude e sabedoria, mas os pensamentos ilusórios impedem que percebam isso". Este foi o primeiro grande ensinamento de Shakyamuni Buda. Não é difícil compreender esta verdade. Basta seguir esta linha de pensamentos:

1) Nossa personalidade é formada por inúmeros eus, ou 'egos'. A cada momento, um ego assume o controle do barco e direciona nossas energias para alcançar seu determinado e próprio objetivo. A própria palavra 'personalidade' deriva do latim 'persona', que quer dizer 'máscara', ou seja, nossa personalidade nada mais é do que uma máscara que usamos temporariamente para atuarmos na sociedade. A personalidade muda o tempo todo. Quando um ego romântico assume o controle, nos tornamos românticos. Quando é um ego raivoso que está no comando, nos tornamos raivosos, e assim por diante. Compreendendo isso, fica fácil concluir que na verdade não temos uma personalidade real e única, mas CADA EGO que nos habita tem sua própria personalidade.

2) O ego não existe por si só. Se você meditar profundamente sobre um determinado ego, vai perceber que ele se desvanece como uma nuvem. Ele não possui essência, não tem nada de concreto, é apenas uma associação de pensamentos que adquire uma personalidade própria. É como um fluir de pensamentos e emoções que se enredam e assumem a ilusão de ser alguma coisa real. Todos os egos são apenas associações de pensamento, assumem uma personalidade e quando estão no comando temos tanta certeza de sua existência que pensamos: este sou eu, eu sou assim, eu quero isso, eu não quero aquilo, é minha opinião. Porém, nada mais falso, são apenas pensamentos agrupados e associados que assumem vida própria e por alguns momentos acabam por assumir o comando.

3) Todo ego tem origem em algum tipo de apego. Existem três tipos de apego, os três venenos: aversão, desejo e ilusão. Ao passar por uma loja, vemos um objeto qualquer e sentimos imensa vontade de ter aquele objeto (roupa, sapato, livro, o que for). Quando saímos do trabalho, ficamos presos no trânsito e isso nos torna nervosos, queremos sumir dali, buzinamos para que o carro da frente ande mais rápido, queremos nos mover e não podemos, simplesmente não queremos ficar ali presos no trânsito. Quando alguém nos contraria, retrucamos: com quem você acha que está falando? Sabe quem eu sou? Ponha-se no seu lugar! Estes são apenas alguns exemplos para mostrar como agem os nossos egos: o desejo pelo que não temos, a aversão pelo que não queremos e a ilusão de sermos alguém especial, melhor ou pior do que as outras pessoas.

4) Todo apego (portanto todo ego) leva à insatisfação e consequentemente ao sofrimento. É impossível saciar um ego. Não há como um ego alcançar a satisfação plena, ele sempre vai querer mais. Após uma breve saciedade, poderá ficar latente por algum tempo, mas depois retornará querendo mais. Quando um ego está parcialmente saciado, dá lugar a outro ego, portanto vivemos ininterruptamente em busca da satisfação e saciedade, como burros correndo atrás de uma cenoura. Um objetivo que jamais poderá ser alcançado. O ego pode proporcionar momentos de prazer e alegria, mas não pode nos prover da mais genuína felicidade, pois isso vai contra sua própria natureza. A natureza do ego é o desejo, fundamentado na insatisfação. Logicamente, não é possível encontrar a felicidade com a satisfação do ego: teremos apenas um momento de prazer e em seguida estaremos novamente buscando a satisfação de outro ego, em um círculo vicioso infinito. Como o ego não tem qualquer fundamento ético ou moral, a satisfação de determinados desejos irá fatalmente criar sofrimento para si e/ou para outras pessoas. Palavras ditas com a intenção de satisfazer um ego poderão ferir profundamente a outrem.

5) Lutar contra o ego é uma guerra perdida. Isso pode ser explicado matematicamente: um praticante de meditação sabe que consegue ficar plenamente desperto somente alguns momentos durante o dia. O resto do tempo está adormecido e sendo jogado de ego para ego como um barco à deriva. Os egos se sucedem como elos de uma corrente interminável. Os raros momentos de samadhi advindos da meditação interrompem brevemente essa corrente. Nesses momentos, estamos lúcidos e, apesar de ainda percebermos a presença do ego, conseguimos agir sem sua influência. Digamos que um praticante consiga ficar desperto por 1% do tempo do dia, ou seja, por uns 10 minutos. Acredite, isso já é bastante coisa. Então temos que por 10 minutos estamos conscientes e pelos 950 minutos restantes (levando em consideração um dia útil de 16 horas) ficamos à deriva e à mercê de nossos egos. Não precisa ser nenhum gênio para perceber que lutar contra o ego é uma guerra perdida. Ele tem muito mais força, está no comando por muito mais tempo, é muito mais esperto e tem a habilidade de criar artimanhas que nos vencem facilmente. Uma das artimanhas é nos provocar SONO durante a meditação, ou ficar o tempo todo nos lembrando de coisas a fazer, como uma agenda eletrônica irritante ligada em 220 volts. Portanto, qualquer luta que empreendermos contra o ego estará fadada ao fracasso. Não é esse o caminho, ele não levará a nada e você estará correndo sérios riscos de ficar neurótico, obsessivo, depressivo e até com tendências suicidas.

6) Egos não alimentados enfraquecem e morrem sozinhos. Esta foi uma das grandes constatações de Gautama Buda. Em cima dessa constatação foram elaborados os preceitos budistas e o nobre caminho óctuplo. Se tivermos um modo de vida correto, estaremos deixando de alimentar o ego, ele perderá forças e aos poucos iremos libertando energia para a nossa verdadeira consciência, nossa natureza búdica. Cada preceito por si só tem o poder de liberar enormes quantidades de energia. Por exemplo, 'não mentir, mas defender a verdade'. Gastamos energia mental para fantasiarmos uma mentira e depois para lembrar e reafirmar a mesma quantas vezes for necessário. Se tivermos o hábito de mentir, acabamos por perder uma imensa quantidade de energia diariamente, simplesmente para sustentar fatos que não aconteceram ou pelo menos que não aconteceram DAQUELE jeito. Porém, se optarmos por falar sempre a verdade, não precisaremos nos preocupar em lembrar qual mentira contamos. Basta falar a verdade. Pronto, um montão de energia liberada para nossa verdadeira natureza! E o mesmo ocorre para os demais 15 preceitos observados por todos os praticantes leigos. Se conseguirmos observar todos os 16 preceitos o tempo todo, veremos aos poucos que nossa mente se torna mais clara, mais calma, centrada, conseguimos ver as coisas com mais clareza e não ficamos 'viajando' tanto quanto antes. É um processo lento mas que dá muito resultado.

7) Atrás das nuvens brilha o sol. Se os egos são como nuvens de pensamento que envolvem nossa natureza búdica como cascas ao redor de uma cebola, ao enfraquecermos o ego essas nuvens se dissipam e aos poucos irá brilhar nossa natureza como o sol brilhando após um dia nublado. Se praticarmos a meditação diligentemente, se procurarmos manter nossa mente alerta durante o dia e se observarmos os preceitos, veremos um progresso contínuo em nossa prática. Nosso samadhi vai ficando cada vez mais profundo, por mais tempo e por mais vezes durante o dia. Isso vai preparando o terreno para o próximo passo: o Kenshô.

8) Kenshô: geralmente ocorre durante longos retiros, pois digamos que de certa forma exige determinadas condições para acontecer. Um kenshô é uma experiência direta da iluminação. Dura de 20 a 30 segundos, e nesse período desaparece a dicotomia sujeito-objeto. Tudo é uma coisa só, tudo está interligado, tudo é perfeito como é, cada átomo é necessário e está no local correto, não há passado nem futuro, somente o momento presente. Não há distinção entre eu-outro. Conteúdo é forma, forma é conteúdo. A mais absoluta e plena paz, uma indescritível sensação de liberdade, pois nesses momentos estamos livres do ego. A mente está dominada e quieta. Esquecemos de nós mesmos e vivemos por alguns momentos em nossa natureza búdica. A experiência do kenshô é libertadora e muda completamente uma pessoa. O mundo muda e a iluminação torna-se possível. O kenshô geralmente só acontece após longos períodos de meditação, quando o praticante está exausto e literalmente desiste de alcançar a iluminação. É por isso que os sesshins são tão severos, a intenção do sesshin é gerar esta crise artificial, esta exaustão, para que o kenshô possa acontecer. Mas o praticante que realiza um kenshô passa a viver um outro dilema: Ele sabe que a iluminação é possível, já experimentou a iluminação, e mesmo assim continua preso nas tramas do Samsara, à mercê do ego, jogado de emoção em emoção como uma folha na correnteza. É complicado. Ele precisa se libertar o mais rápido possível. Após o primeiro kenshô tem início um período conhecido como Noite Escura. Na verdade todos nós vivemos como se estivéssemos sonâmbulos. Aquele que realiza o kenshô toma consciência disso e consegue perceber a escuridão em que está inserido.

9) Satori: Quando o praticante persiste na prática e se dedica com todas as forças para alcançar a iluminação, participando do maior número possível de sesshins e por vezes fazendo retiros solitários por conta própria, vai tendo paulatinamente mais experiências de kenshôs, até que o kenshô passa a ser diário, como os samadhis. O praticante tem continuamente insights fantásticos, visões e experiências místicas. Começam a se desenvolver os siddhis (certos 'poderes' considerados 'sobrenaturais'). Nesse estágio, a qualquer momento um determinado estímulo pode finalmente levar o praticante ao SATORI, que é a iluminação propriamente dita. Existem vários níveis de iluminação. Há quem afirme que aquele que realizou um kenshô já alcançou uma iluminação, mas particularmente considero esta afirmativa muito perigosa, pois quando realizamos o primeiro kenshô ainda estamos totalmente à mercê do ego. Somente após o despertar da natureza búdica - satori - é que vencemos o ego. O ego se desvanece, desaparece. Passamos a usar a personalidade quando e como desejarmos, sem sermos afetados por ela. Não há mais apego. Sabemos que a personalidade utilizada naquele momento não somos nós. É o Nirvana, nenhum vento nos leva. É como o mecânico que, após usar uma ferramenta, simplesmente a abandona pois não precisa mais dela.

Concluindo, quando tomamos consciência de que o EU É ILUSÃO, tem início um longo processo em busca de nossa verdadeira natureza. Após dispersar as nuvens do ego que encobrem nossa natureza, ela pode brilhar com toda a sua intensidade. Eliminados os apegos que nos levam ao sofrimento, o que resta é a mais profunda paz e felicidade. A personalidade deve ser apenas uma ferramenta que utilizamos para conviver em sociedade, mas precisamos ter consciência de que ela não representa o que somos, é apenas uma roupa que precisamos vestir de acordo com cada situação. E por fim, se o ego consome quase a totalidade de nossa energia e mesmo assim somos capazes de fazer muita coisa, imagine o que podemos fazer se tivermos a liberação de TODA a energia, direcionada exclusivamente para um único fim. É por isso que os mestres conseguem realizar enormes obras com um mínimo de esforço. Todos os seres já são perfeitos e dotados de virtude e sabedoria, mas o ego não permite que eles percebam isso, pois o ego nos mantém adormecidos, como se estivéssemos sonhando. O primeiro passo para alcançarmos o despertar é praticar meditação regularmente e observarmos diligentemente os preceitos. Finalmente, um coan: se o ego é ilusão, então quem realmente somos?

O caminho de Buda é insuperável. Faço votos de percorrê-lo até o fim e de realizá-lo.

Que todos possam se beneficiar.







segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Modelo de Vida


MODELO DE VIDA

Ultimamente um assunto recorrente nos pontos de ônibus, barbearias, bares e afins versa sobre o cada vez pior problema do excesso de automóveis nas ruas, do cada vez mais caótico trânsito em que nos engolfinhamos todos os dias, e sobre como um produto originalmente concebido para ser um BEM acabou se tornando um MAL. O trânsito nos deixa nervosos, irritados, impacientes, desolados. O trânsito polui. O trânsito nos incomoda com seu barulho, com sua intolerância e violência. O trânsito destrói nossos recursos naturais através da exploração cada vez mais irracional de metais, petróleo e tantas outras matérias-primas, renováveis ou não, visando o lucro a qualquer preço, colocando sempre o dinheiro acima do valor da vida. O trânsito mata. E mata muito. Mata mais do que as guerras. É um inimigo oculto que, como um parasita, foi se instalando em nossa sociedade e aos poucos foi crescendo e se alimentando, tomando tal proporção que hoje dependemos dele, não podemos mais viver sem ele, odiamos ele e mesmo assim não conseguimos mais nos livrar dele. É como qualquer fármaco: na dose certa é um remédio, na dose errada é um veneno.

O interessante é que as pessoas SABEM os motivos que levaram a esse tamanho desconforto, diria mais, esse tamanho incômodo, esse câncer maligno que nos tortura todos os dias. Não são pessoas letradas, não são doutores, mas todos sabem: A causa de todos esses problemas é o egoísmo exacerbado do mundo
atual (a maioria dos carros nos engarrafamentos só tem uma pessoa dentro), que é criado por uma falsa necessidade de status (ser mais ou melhor do que o outro, o que nos leva a querer sempre ter um carro melhor do que o do vizinho), status esse que é alimentado por uma força de mídia tremendamente  poderosa que nos bombardeia com três mil anúncios publicitários por dia, força essa que está a serviço de um sistema que foi cuidadosa, consciente e meticulosamente planejado há mais de cem anos por pensadores a serviço de uma extrema minoria detentora de uma coisa muito importante: o dinheiro.

Vamos fazer o caminho inverso: Uma extrema minoria, talvez nem sequer meio por cento da população, detém muito poder, muito dinheiro. É óbvio que eles vão querer sempre manter ou acumular mais riquezas, custe o que custar. A vida não importa. Os recursos existem para serem extraídos até a extinção. Problemas gerados são oportunidades para se fazer mais dinheiro. Exemplos? A violência no trânsito é excelente oportunidade para se abrir clínicas de ortopedia e traumatologia! E também para laboratórios de raio-x ou de diagnóstico por imagem. Enfim, quanto pior, melhor. A vida humana não interessa, é apenas mais um recurso para se fazer mais dinheiro. E quando a pessoa morre, ainda assim lucram as funerárias e cemitérios.

Voltando no tempo:

Após a Revolução Francesa, o poder passou às mãos dos burgueses, dos capitalistas. Eles trouxeram o progresso, após quase um milênio de trevas. Era o século das luzes! Máquinas a vapor! Era possível ir ao mercado para comprar sabão, comida, roupas, sapatos, coisas que antigamente só poderiam ser adquiridas de pequenos fabricantes locais, os artesãos. Nisso apareceram grandes indústrias, gigantescas fábricas (que vem de fabril, ou seja, teares, produção de roupas).

O modo de produção repentinamente mudou. Isso gerou uma grande crise. Não havia profissionais habilitados. Os antigos artesãos, outrora livres e autônomos, agora eram obrigados a ficar doze horas por dia na frente de uma máquina fria. As mulheres deixaram seus lares e afazeres domésticos para trabalhar nas indústrias, pois eram mão-de-obra mais barata que os homens. Crises sociais e inversão de papéis nas famílias começaram a bagunçar as coisas.

E então vieram as indústrias automobilísticas! A gigantesca Ford, a General Motors e a Volkswagen. O sonho de consumo de todo trabalhador era poder ter um carro. Foram construídas estradas, rodovias, pontes, viadutos. As distâncias se tornaram menores. Agora era possível atravessar um continente inteiro em poucos dias. O automóvel foi, sem dúvida alguma, em termos de importância, o maior bem de consumo já produzido pelo homem até então.

Estamos no início da década de 20. A crise mundial, a grande quebradeira das empresas que cresceram demais, a especulação imobiliária e financeira que gerou uma bolha, que finalmente estourou em 1922. Teorias como o marxismo começaram a mostrar-se reais: o capitalismo não pode ter futuro, pois é autofágico, alimenta-se de si mesmo, é entrópico e egoísta, portanto não pode ser um bem para a sociedade. Não pensa no bem comum, tem olho apenas para o próprio umbigo. O socialismo desponta como uma grande alternativa para a sociedade. Em 1917 a revolução russa instala o comunismo em uma grande nação, e vários países começam a seguir o mesmo exemplo, dividindo o mundo em três partes: o Primeiro Mundo, capitalista, o Segundo Mundo, comunista, e o Terceiro Mundo, que é meramente fornecedor de matéria prima para os outros dois. Com o espantoso crescimento do comunismo, os capitalistas se reúnem e passam a elaborar um novo modelo, um novo sistema capitalista, uma máquina gigantesca de se fazer dinheiro e que pudesse ter longa vida, sem os percalços de enormes crises como a de 22.

Então, enquanto a Segunda Grande Guerra acontecia, nas surdinas os pensadores iam elaborando o novo sistema social. Ele precisava estar profundamente enraizado no EGO de cada pessoa. Sua transição deveria ser tão lenta e natural que ninguém percebesse. E o sistema precisava de uma força gigantesca de divulgação. Logo em seguida foi inventada a TELEVISÃO, a COMUNICAÇÃO POR SATÉLITES e, bem depois, os COMPUTADORES e a INTERNET. O sistema deveria se transformar em uma espécie de religião para as pessoas. Elas iriam acreditar tão cegamente no sistema que não iriam perceber que estavam sendo manipuladas por ele. Isso teve início lá pela década de 50. O mundo estava destruído pelas guerras e precisava ser reorganizado. As pessoas precisavam comprar novos produtos, novas roupas, novas casas, novos carros. Iniciou-se a era do consumo.

Mas os bens comprados não poderiam ser mais tão duráveis quanto antes, pois em 1920 era possível comprar um ferro elétrico que durava a vida toda, então percebeu-se que isso não era lucrativo. As coisas precisavam ter um período de obsolescência, ou seja, precisavam estragar logo, para que outro produto pudesse ser vendido no lugar do antigo. Mas essa transição deveria ser lenta, senão as pessoas perceberiam. O ferro de passar passou a ser planejado para durar 15 anos. Depois 12. Depois 10. Hoje um ferro elétrico tem vida útil em torno de 5 anos. Aí somos obrigados a jogá-lo fora para comprar um modelo mais novo, mais bonito e eficiente e que vai durar menos tempo ainda. E assim é com todas as coisas que estão à nossa volta.

Realmente a transição foi tão lenta que não chegamos a perceber. Na verdade até comentamos: antigamente as coisas duravam mais, ou não se fazem mais coisas como antigamente. Só que não paramos para pensar que isso foi PLANEJADO CONSCIENTEMENTE.

Mesmo assim, ainda era necessário que as coisas tivessem uma vida útil ainda menor, ou seja, que fossem trocadas ANTES de estragarem. Mas por que alguém iria se desfazer de um produto que ainda está em ótimo estado de conservação? É aí que entra a maior sacada do sistema capitalista moderno: para ser igual aos outros, ou melhor do que eles. Todo o extremo consumismo do mundo atual está baseado nessa 'necessidade' de ser igual ou melhor do que os seus próximos. A vaidade combinada com a inveja.

Aí a indústria encontrou um lastro gigantesco e infinito de possibilidades para se esbaldar à vontade. A criatividade é o limite. Os brinquedos, antigamente feitos para durarem anos, hoje são feitos para durarem HORAS (isso mesmo, HORAS!). Duvida? Compre em uma loja de 1,99 um carrinho qualquer feito na China e dê para uma criança de três anos para ver quanto tempo dura. Exato. Se já não estiver avariado de fábrica (o que é muito comum), logo vai quebrar uma roda, soltar uma peça ou se desmantelar inteiro. Em poucas horas vai estar estragado. Tudo bem, é um brinquedo barato, amanhã eu compro outro. É EXATAMENTE ISSO QUE ELES QUEREM!

Mas como fazer com que as pessoas comprem deliberadamente produtos que sabem que vão durar apenas algumas horas? Isso não faz sentido, qualquer pessoa com dois neurônios iria perceber que estaria jogando dinheiro fora! O sistema precisava de algo mais sólido, que forçasse as pessoas a comprar um produto, mesmo sabendo ser de péssima qualidade. Então eles inventaram a MÍDIA, uma das mais fantásticas ferramentas do Marketing. Nós somos bombardeados todos os dias com milhares de anúncios em várias mídias diferentes: televisão, rádio, outdoors, revistas, jornais, internet, etc. E eles são cruéis.

Eles atacam nossas crianças, pois elas têm uma mente facilmente influenciável e irão se tornar excelentes consumidores pro resto da vida. Basta ver quantos programas infantis existem, quantos PATATI-PATATÁS da vida estão lançando DVDs o tempo todo, quantos BEN10 aparecem todos os anos, quantos HOT WEELS, quantas BARBIES, quantas HELLO KITTY, etc. Esse produtos são caros e planejados para terem pouquíssima vida útil, visto que conscientemente são produtos da MODA, programada para durar um ano ou menos. Ano que vem é outra temporada, vão ser outros heróis, outros personagens, outros bonecos, outros carrinhos, outras roupinhas... novamente, a criatividade é o limite. E para o bolso do consumidor, crédito e mais crédito até ele se enforcar totalmente.

A indústria da telecomunicação também se esbalda com a criatividade e com o 'avanço' tecnológico. Cada seis meses seu celular se torna obsoleto. Novos modelos são lançados, com muito mais funcionalidades e possibilidades de interconexão com outros celulares. com mais serviços, novos sistemas, aplicativos, redes sociais, novas formas de interagir. A indústria de celulares é o filão dos dias atuais, e opera exatamente em cima dessa necessidade de status, a vaidade, a inveja, o querer ser igual ou melhor que os outros. João tem um iPhone, eu também quero ter. Isso rende trilhões de dólares!

Voltando ao tema inicial, o mesmo acontece com os automóveis. Cada ano é lançado um modelo diferente. É o carro do ano. Quem tem o carro do ano é o melhor da turma. Hoje é o Camaro, o Veloster. Ano que vem vão ser outros. Daqui a três anos o Camaro e o Veloster vão estar ultrapassados. Vão estar fora de moda. Vão olhar para você pensando: coitado, não tem dinheiro para comprar um carro melhorzinho? E claro que sabemos que o carro ainda nem foi totalmente quitado.... não interessa, você precisa ter o carro do ano, o celular do ano, se vestir como a atriz da novela, usar o perfume da moda. Gostar das músicas da moda. Mais do que isso, você precisa ter o DVD com o artista da moda para tocar no carro, mostrar para seus amigos e dizer: vejam como estou atualizado!

A velocidade com que são fabricados novos veículos todos os dias é infinitamente superior à capacidade de se construir novas estradas.  Essa é uma equação que em longo prazo se transforma em uma bomba relógio. Analistas já haviam percebido e previsto isso no início da década de 80, ou seja, mais de 30 anos atrás. Falaram que em meados de 2010 a 2020 existiriam tantos carros nas ruas que o trânsito simplesmente não teria mais como fluir, o sistema entraria em colapso. Bom, só faltou eles acertarem o ano, pois é exatamente isso que estamos vivendo hoje. E mais, eles disseram que quando o preço da gasolina passasse de um dólar (e já passou faz muito tempo), os custos com transporte seriam tão altos que iriam inviabilizar o próprio sistema econômico. Eles sabiam que o petróleo é um recurso não-renovável, portanto iria ficar progressivamente mais caro, e que novas formas de energia ou de combustíveis alternativos não teriam tempo suficiente para serem descobertas e desenvolvidas de forma economicamente viável antes da extinção do petróleo. Em 1980 os cientistas já previam o colapso que estamos começando a viver hoje.

Nisso, entramos em um ciclo vicioso que pode ser extremamente perigoso: precisamos trabalhar para podermos sustentar nosso consumo de produtos que rapidamente se tornam obsoletos e que precisam ser substituídos, causando assim maiores despesas. Aumentam as despesas, precisamos trabalhar mais, fazer mais horas extras, e comprar mais e mais produtos. Quanto mais tempo trabalhando, menos tempo com a família, menos tempo fazendo coisas boas, menos tempo passeando, menos tempo vivendo. Nos transformamos em robôs, em autômatos, cuja única razão de viver é trabalhar para continuar comprando e sustentando o sistema indefinidamente. E ensinar nossos filhos a fazerem exatamente a mesma coisa.

Quem olha de fora, de forma crítica, sobre todo esse quadro, quem percebe esse emaranhado de necessidades criadas deliberadamente para nos escravizar, quem consegue se abstrair de forma a perceber essa máquina toda funcionando, essa pessoa sim tem a possibilidade de se libertar desse sistema.

Mas como? É possível se libertar de um sistema do qual já somos tão profundamente dependentes? Como vou viver sem Coca-Cola? Sem um celular? Sem assistir o Fantástico ou a minha novela favorita? Sem vídeo-games? Sem o carro do ano? Ah, a vida assim não teria graça nenhuma, seria um tédio!

Quem percebe a máquina do sistema funcionando, não está preso a nenhuma necessidade criada artificialmente pelo próprio sistema. Pra que Coca Cola se podemos fazer um suco de laranja, que é muito mais gostoso e saudável? Não é suficiente um celular que somente faça e receba ligações? Que tal fazer uma atividade em família ao invés de se entregar à entorpecente e hipnótica televisão? Que tal jogar bola ao invés de video-games? Que tal andar de bicicleta ao invés de carro? Quer saber? Uma vida assim seria muito, mas muito mais divertida sim!!

Mas é possível vivermos desta forma, estando dentro do sistema? Sim e não. Podemos optar por uma vida mais simples e mais saudável, podemos optar por morar em um lugar mais tranquilo e mais próximo à natureza, podemos optar por ter bons hábitos, por cultivar bons valores, podemos optar pelo AMOR e pela AMIZADE em lugar do DINHEIRO e das INFLUÊNCIAS. Mas estando dentro do sistema, querendo ou não continuaremos a alimentá-lo de uma forma ou de outra.

Por isso existem vários movimentos sociais em todo o mundo incentivando a vida em COMUNIDADES PEQUENAS. Conceitos lançados há mais de 50 anos, como ECOVILAS SUSTENTÁVEIS e PERMACULTURA, hoje estão bem amadurecidos e com inúmeros exemplos práticos de sucesso. Já existem milhares de comunidades em todo o mundo que produzem seu próprio alimento, sua própria energia, que reciclam seu lixo, que estão mais integradas à natureza e que baseiam-se em valores humanos verdadeiros. Se há algum caminho para vivermos em uma sociedade melhor, mais harmônica, com mais amor, paz e cultivo de bons valores, esse caminho só pode ser através da vida em pequenas comunidades, pois nas grandes cidades somos tão bombardeados pelas necessidades impostas pela mídia que dificilmente conseguiremos nos libertar delas. Nas grandes cidades impera a violência, o desprezo pelos bons valores e pelo próximo, impera o consumismo, o egoísmo, o desrespeito e a total banalização da vida humana. O que está fora da minha pele não me interessa, não sou eu. São esses os valores que queremos passar aos nossos filhos? Essa dualidade doentia e tão des-integrada da realidade?

Não consigo imaginar um modelo social economicamente sustentável e que tenha base nos melhores valores morais e éticos do ser humano se não for através da vida em pequenas comunidades, preferencialmente rurais. Alguns vão dizer: mas assim você não vai estar preparando seu filho para enfrentar o mundo e ter sucesso. Pergunto: o que é o sucesso? É ter mais do que os outros? Pra que, se podemos ter o suficiente? E enfrentar o mundo para que, se você pode se HARMONIZAR com o mundo, e assim ser realmente feliz? Vejam, não é errado ter uma vida próspera, ter uma boa casa, uma boa mobília. O errado é estar APEGADO a essas coisas e acreditar que o dinheiro tem mais valor que a vida, o amor, a felicidade.

Para concluir: Meu filho de dois anos e meio adora assistir desenho animado. Fica como um sonâmbulo na frente da TV ou do computador. Esperneia e reclama quando não está assistindo o desenho que quer. Mas sabe quando é que ele realmente se diverte e dá gargalhadas? Quando está correndo e brincando no pátio, quando fazemos guerra de travesseiros ou de cócegas, quando jogamos bola e quando vamos brincar nos parques. Ele gosta de ver bichos na TV, mas fica absolutamente fascinado quando os vê ao vivo. Ele gosta de brincar com carrinhos da Hot Weels, mas não tem como comparar nem de longe com o tanto que ele gosta de tomar um banho quentinho com o papai ou de dar um abraço bem gostoso na mamãe quando está na cama para dormir. São esses valores essenciais que a sociedade atual está desastrosamente perdendo. O boneco de borracha do Mickey impera sobre o carrinho de rolimãs, nossas crianças estão se tornando adultos tristes e irritados, que precisam consumir desvairadamente para poderem preencher o vazio gerado pela própria busca deste consumo. Como disse, o capitalismo é autofágico.

Enquanto somos consumidores, estamos consumindo a nós mesmos. A saída é abrir a janela, desviar o olho da TV, sentir o cheiro da grama e ver como é linda a aurora, junto àqueles a quem você ama. Isso sim é importante.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Desculpem

Às vezes cometemos atos que acabam por ferir e magoar uma grande quantidade de pessoas, próximas ou não, de uma forma por vezes grave e irreversível.

É como uma pequena pedra jogada em um lago. Ela gera ondas para todos os lados. Não tem como conter essas ondas. Não tem como pará-las. Não tem como fazer com que a pedra volte, uma vez lançada.

Portanto precisamos ter muito, mas muito cuidado em relação aos efeitos causados por nossos atos. Somos responsáveis pela dor e pelo sofrimento que serão causados. Não temos como fugir disso. Não há como apagar, como passar uma borracha. A pedra foi lançada, ocorrerão as ondas, não há o que fazer.

Como todas as ondas, elas vão, batem na margem causando estragos e voltam para o seu ponto de origem, portanto todo o sofrimento que causamos irá gerar sofrimento a nós também, de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde.

Peço desculpas a todos por todos os sofrimentos que causei até hoje. Resta-me apenas o arrependimento. Que eu aprenda com este arrependimento e que ele me ensine a me transformar em uma pessoa melhor.

Por favor, esqueçam este Flávio que causou sofrimentos. Foi um ego que falou mais alto, mas ele não sou eu, o verdadeiro Flávio, ele foi apenas um ego superalimentado que causou grandes estragos.

A partir de hoje, sexta-feira, 22 de junho de 2012, viverei uma vida mais regrada, mais reclusa, de acordo com todos os princípios que sempre defendi, de acordo com os preceitos budistas que sigo há quase cinco anos e pelos quais fiz votos há quase três meses.

E também uma vida mais engajada, quero ser uma pessoa mais útil para a sociedade do que fui até agora.


Decido a partir de hoje voltar a viver segundo minha verdadeira natureza.

Peço novamente a todos as mais profundas e sinceras desculpas pelas trapalhadas e por todo o sofrimento que causei. A partir de hoje decido voltar a viver segundo meus princípios, os mesmos princípios que foram ditos por Siddartha Gautama, o Buda Shakyamuni, há mais de 2600 anos:

Evitar o Mal: Evitar causar o sofrimento de qualquer ser vivo. Manter-me longe de pessoas e situações que venham a causar qualquer tipo de mal a mim mesmo ou a qualquer outro ser. Evitar o consumo de qualquer substância entorpecente e não incentivar ninguém a fazê-lo. Evitar usar minha sexualidade de forma a causar sofrimento. Evitar palavras e atos de baixo calão, maliciosas ou que gerem qualquer tipo de desconforto.

Fazer o Bem: Ser útil, ajudar e cuidar de todos os seres, levar o bem, a felicidade e a alegria por onde quer que eu passe. Trabalhar pelo bem de todas as pessoas, especialmente pelas mais necessitadas.

Ser o Senhor da minha Mente: Dedicar-me à meditação, à leitura de bons livros e textos, e a boas práticas que permitam o despertar de minha natureza e à iluminação do caminho de todas as pessoas que eu puder iluminar. Práticas que levem a purificar minha mente, diminuir e eliminar meu ego e a transformar-me em uma pessoa melhor, mais útil, mais humana.

Que todas as pessoas se beneficiem. Gasshô.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Tudo é ilusão

Acordamos pensando nas coisas que temos a fazer. Planejamos o que vamos falar caso encontrarmos determinada pessoa. Lembramo-nos de problemas que aconteceram e imaginamos como evitar que ocorram novamente. Lembramos de momentos bons e planejamos como repeti-los.
Enquanto isso, na Jukebox da nossa cabeça, toca uma musiquinha chata sem parar.
A mente divaga em meio a um infindável labirinto sem saída, balançando entre passado e futuro, como um barco à deriva, uma carroça sem cocheiro.
Podemos até ter lembranças ou projeções agradáveis, ficamos felizes. Mas tudo isso é ilusão, nada mais que ilusão.
Então lembramos do aqui-agora, e falamos mentalmente: ACORDE, BODHISATTVA!
Bem-vindo ao presente, à luz e à realidade. O momento presente é a única coisa real que existe. Todo o resto é devaneio e ilusão que só levarão ao sofrimento.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Vampiros II


Em meu post anterior sobre vampiros, usei uma abordagem voltada mais para as pessoas que estão iniciando em seu caminho espiritual, ou para as que já possuem certa experiência.A dica geral é se afastar de pessoas que lhe sugam energia.

Mas sinto-me na obrigação de esclarecer melhor esta questão de um ponto de vista um pouco mais profundo.

Nossa energia só pode ser vampirizada se tivermos algum EGO que se conecte com o ego do vampiro e que permita essa perda de energia.

Aquele sábio ditado que diz que se uma pessoa não quer, duas não brigam, é real e tem tudo a ver com esta questão.

Um exemplo prático: Uma pessoa começa a insultar você. Você só vai ficar irritado, nervoso, desgastado, se permitir que os insultos o atinjam. Se não tiver ninguém para ser insultado, não haverá qualquer perda de energia.

Os egos criam associações, tanto dentro de nossa própria cabeça, quanto entre indivíduos diferentes. Mas lembre-se sempre que QUEM ESTÁ NO COMANDO É VOCÊ, e você é quem deve permitir ou não que alguma energia seja usada por algum ego. Se você não quiser, ninguém no mundo poderá tirá-lo do centro ou provocar qualquer irritação, raiva, inveja, aversão, desejo, nojo ou qualquer tipo de sofrimento.

Aprofundando um pouquinho mais, é necessário ter a consciência de que somos todos um só, que a natureza búdica é universal e que a percepção de eu-outro é ilusória. Mas quando houver a consciência desta realidade, a própria idéia de ter um ego a ser vampirizado por outro deixa de existir. Não há ego a ser vampirizado. Não pode haver perda de energia, pois somos todos um, e a energia permanece, não é perdida, apenas transferida, e lembre-se novamente, É VOCÊ QUEM DECIDE para onde essa energia
deve ser transferida.

E finalmente, devemos nos fazer a pergunta: QUEM É ESSE QUE DECIDE? A resposta pode ser uma revelação maravilhosa. É um Koan, divirta-se com ele.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Você É o Universo

A Natureza Búdica que existe em todos nós não pode ser descrita em palavras, mas é como se fosse todo o Universo.
Quando temos a conexão com nossa Natureza Búdica, estamos conectados com o Universo inteiro. Nós SOMOS o Universo.
Portanto, deste ponto de vista, nossos problemas viram poeira. Desaparecem.
O EU também deixa de fazer sentido. Torna-se um nada, vazio, simplesmente some na vastidão da Natureza Búdica.
Absolutamente não importa se você está vivo ou morto. O Universo continua existindo. E se deixar de existir, também não tem importância alguma.
Por isso, seus problemas são menos do que nada. Há uma imensidão de coisas importantes a serem feitas, uma de cada vez no eterno aqui-agora. Você é grande demais para ficar preso em seu minúsculo mundinho de intrincadas ilusões. Aliás, esse mundinho simplesmente desaparece também. Não faz mais sentido. Você está livre para ser o que é, desde tempos imemoriais, e a exuberância da vida é maravilhosa demais para ficar prestando atenção e gastando energia com coisas minúsculas, com gente morta.
Desperte logo o Bodhisattva que existe em você e conecte-se com a sua Natureza Búdica. Acorde, você é importante demais para ficar dormindo neste pesadelo inútil sem fim, e sem sentido.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Vampiros - Sim, eles existem!

Vampiros existem por todos os lados e estamos cercados por eles.
Claro que não são como os filmes da TV, com capa preta, que chupam sangue e se transformam em morcegos.
São pessoas comuns e muito próximas a nós. Pode ser um pai, mãe, patrão, empregado, namorado(a), esposo(a), vizinho, amigo ou qualquer pessoa em nosso convívio.
Pessoas um pouco mais espiritualizadas ou mais centradas conseguem absorver energia direto do Cosmos. Basta olhar para as pessoas que parecem verdadeiros tratores humanos, grandes empresários, líderes, formadores de opinião, ou simplesmente pessoas altamente carismáticas. Essas pessoas transmutam a própria energia do Universo a seu favor e são hábeis em transformar problemas em oportunidades, mesmo que não tenham consciência disso. Nada as segura.
A maioria das pessoas também absorve essa energia do Universo, porém acaba perdendo-a para os chamados 'vampiros', em maior ou menor grau. A vida às vezes parece travada, não anda, tudo parece ser difícil, seu humor oscila de momentos de alegria para profundas depressões, e a vida segue nos altos e baixos do Samsara.
Uma outra parte das pessoas tem um desenvolvimento espiritual muito baixo, e não conseguem absorver a energia do Universo, pois não estão sintonizadas com Ele. São pessoas egoístas, lamentosas, problemáticas, ávaras, lascivas, por vezes encrenqueiras, briguentas ou que promovem discórdias por onde passam. Como elas não conseguem absorver a energia do Universo suficientemente, precisam absorver a energia das pessoas a seu redor para manter seu equilíbrio. Basta perceber que após gerar uma discussão acalorada entre duas pessoas, essas duas pessoas ficam um lixo e a pessoa que provocou a discórdia sai numa boa. Isso é fato, não é viagem de bicho-grilo pseudo-esotérico.
Normalmente não percebemos que nossa energia está sendo vampirizada. Precisamos treinar, prestar atenção em nosso nível de energia e perceber quando esse nível está rapidamente diminuindo. Se estivermos atentos, perceberemos: Opa, tem alguém me vampirizando! Ao procurar a causa dessa perda de energia, certamente perceberemos que estamos conversando sobre algum assunto com alguém e nessa conversa estamos sendo sugados, ficando irritados, e por mais que tentemos vencer a conversa por argumentos, a situação piora, pois estamos gerando mais energia para ser vampirizada, até que a gente perde o controle, se irrita, ou se sente vencido, um trapo. Temos sono, queremos dormir ou até mesmo sentimos vontade de morrer, de ir embora, de sumir do mapa. Energia esgotada.
Ao perceber que estamos sendo vampirizados, imediatamente precisamos mudar de assunto, desconversar e NOS AFASTAR DA PESSOA o mais rápido possível. Não devemos tentar argumentar. Não há argumentos contra um vampiro, ele sempre vai ganhar na guerra dos argumentos. Ele sempre estará certo, ele é mais forte. Você será metralhado com argumentos de tal forma que perderá energia somente ao tentar acompanhar a linha de raciocínio dele. O melhor a fazer é ficar longe.
Outra forma de vampirizar nossa energia é sugando recursos materiais. Os advogados são muito hábeis nisso.
Também há aqueles que vampirizam pela luxúria, pelo sexo, pelo desejo sensual. Ninfomaníacos, masoquistas ou simplesmente pessoas descontroladas. Fazem tanto sexo e com tal volúpia, intensidade e frequência que acaba minando completamente as energias do parceiro.
Precisamos ressaltar que os vampiros são pessoas normais que estão ao nosso redor e não fazem a mínima idéia que são vampiros. Você mesmo pode ser um sem perceber. Geralmente os vampiros não têm essa noção, nem a mínima condição para perceber essa troca de energia. Salvo os vampiros 'profissionais' que vampirizam conscientemente, mas é muito raro encontrar um deles. A não ser que você vá para Brasília...
Somente se você estiver em um nível bastante avançado no seu Caminho Espiritual, e com energia suficiente, você poderá ajudar os vampiros, fazendo-os perceber o que estão fazendo e promovendo uma mudança de atitude. De qualquer outra forma, a receita básica é: Fique bem longe dessas pessoas.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Música da Rodovia

Nos últimos quinze dias tenho precisado me concentrar muito no trabalho para cadastrar produtos em uma loja virtual. Faço isso muito melhor e mais rápido escutando música, então há uns quinze dias tenho ouvido música (de vários gêneros pois sou bem eclético) umas oito horas por dia.

Lá pela quinta feira da semana passada, na minha costumeira meditação do meio-dia, estava a observar o tráfego intenso nas vias marginais da BR 101. Mente serena, calma, tudo certo, somente o trânsito caótico, como caótica é a própria vida.

Percebi então que a música certa para cada momento é exatamente o som que estiver acontecendo nesse determinado instante, seja ele qual for. O ruído de uma cachoeira é a mais perfeita das músicas para quem está lá. O coachar dos sapos e o cri-crilhar dos grilos também. O som longo, bucólico e monótono das cigarras também é uma maravilhosa música para os ouvidos que estão no momento presente.

Da mesma forma, pode parecer insano, mas o barulho dos carros, motos, caminhões e sei-lá-o-quês que transitam desabestadamente pela rodovia também compõem uma bela melodia! Sim, o barulho de uma rodovia é a própria música da rodovia. Está perfeito assim. Com cheiro de diesel queimado, palacas de freios e pneus fritando, de brinde.

Para os que acham simplesmente impossível que o insuportável barulho de uma rodovia seja uma bela música, recomendo tentar aceitar a vida como ela é e as coisas como são a cada momento, mesmo que o trânsito caótico nos cause taquicardia. Foi assim que percebi que a música da rodovia é perfeita do jeito como é. Como toda música, ela exprime um momento, um sentimento (mesmo que seja a pressa, intolerância e impaciência) e ao re-escutar a música nosso corpo sente e reproduz este sentimento.

Se alguém quiser, posso gravar um MP3 com uma hora de barulho da rodovia. Pode ser uma meditação bem interessante... :)

Acorde, Bodhisattva!!

Um irmão no Dharma a quem devo o maior respeito comentou comigo há cerca de dois anos:
- Flávio, você é um verdadeiro Bodhisattva.
Infelizmente não pude retribuir a este irmão no Dharma à altura de suas expectativas por uma série de fatores que agora não vêm ao caso, e sinceramente sinto muito por isso até hoje. O importante é que esta ideia - você é um Bodhisattva - permaneceu sendo ruminada em minha mente, até que há alguns dias tive um insight muito intenso sobre este assunto e "caiu a ficha".
Todos nós somos Bodhisattvas. Todos nós somos Buda. De verdade. Apenas não acordamos para isso ainda. Estamos com o foco nas árvores e por isso não conseguimos ver a floresta.
Por isso, toda vez que minha mente começa a divagar e se enrolar em seus tradicionais emaranhados do tipo "e se acontecesse tal coisa" eu me lembro da frase: "Acorde, Bodhisattva!!" e rapidamente retorno para o aqui-agora. Afinal, como qualquer pessoa, eu sou um Bodhisattva e tenho muito mais o que fazer do que desperdiçar minha energia mental em labirintos ilusórios inúteis.
Fica meu profundo agradecimento a este grande irmão Mahayana por ter plantado uma simples semente que acabou germinando e dando origem a uma bela árvore. Gasshô.

domingo, 1 de abril de 2012

Cerimônia de Jukai (Rakusu)

Hoje é a cerimônia de Jukai, na qual receberei meu Rakusu pelas mãos da honorável Dai-En Roshi, vinda especialmente dos EUA para esta ocasião. Junto comigo, há uma dúzia de outros praticantes de vários locais que receberão seus Rakussus também.

Veja neste endereço o que é a cerimônia de Jukai, e neste outro o que é um Rakusu.

Será um dia muito especial para todos e para toda a Comunidade Zen Budista de Florianópolis. Não consigo lembrar, pelo menos nesses últimos quatro anos, de um Sesshin ou Zazenkai com um número tão grande de inscritos. O local também é maravilhoso: O Recanto Champagnat, no alto do Morro da Lagoa, em Florianópolis.




quinta-feira, 15 de março de 2012

O Dharma, a Caverna e a Luz do Sol

Este é um blog sobre budismo, sobre o Dharma.
Porém, não há coisa mais contraditória do que fazer um blog para falar do Dharma.
O Dharma não pode ser explicado por palavras. Não é possível defini-lo. É como tentar explicar para uma pessoa qual é o gosto do sal. Enquanto a pessoa não sentir, nenhum tipo de explicação poderá ser útil.
Por outro lado, falar sobre o Dharma é a única coisa que podemos fazer para que as outras pessoas se interessem pelo assunto, e assim plantem uma semente em seu inconsciente que talvez um dia, nessa vida ou em vidas futuras, venha a brotar.
Se uma única pessoa que ler estes comentários começar a praticar por causa deles, ficarei realmente muito feliz, pois será mais uma pessoa que estará se libertando das ilusões e apegos de sua mente.
Vou contar uma historinha que passou pela minha cabeça hoje, em um insight muitíssimo interessante. Há semelhanças com outras histórias budistas e também com um famoso trecho da República de Platão, mas esse foi um insight genuíno e não possui nenhuma inspiração nessas histórias, então vou descrevê-lo como o experienciei:

Imagine uma pessoa que nasceu em uma caverna e que jamais tenha visto a luz do sol.
Essa pessoa não sabe sequer que o sol existe.
Em um determinado dia, andando pela sua caverna sob a luz de uma pequena vela, vê alguns desenhos em uma parede, falando de um lugar maravilhoso, iluminado por uma luz de milhões de velas, uma luz chamada Sol. Essas inscrições falam sobre um caminho que tem que ser percorrido para se chegar até o sol.
Ele começa a imaginar coisas sobre esse tal de Sol. Deve ser um Deus, ou talvez um demônio. Então inventa umas orações, faz prostrações e reverências em respeito ao Sol. Resolve dedicar um dia por semana para o Sol, e o chama de Dia do Domínio do Sol. Começa até a escrever poemas e fazer desenhos nas paredes falando do Sol, que é um Deus cruel, vingativo e que esmagará todos aqueles que não se ajoelharem diante dEle.
Certo dia, retornando à mesma sala com as inscrições na parede, percebe que as inscrições mostram o desenho de um mapa, e começa a imaginar se esse caminho realmente não existe, ou seja, que seja realmente possível conhecer pessoalmente essa tal de Luz do Sol.
Ainda cercado de muitas dúvidas, resolveu procurar esse caminho.
Começou a percorrer corredores da caverna pelos quais jamais havia se aventurado. Perdeu-se várias vezes, caiu, tomou desvios errados, mas não desistiu e continuou procurando.
Então, lá no fundo de um corredor muito estreito e de difícil acesso, ele vislumbra uma claridade. Será a luz do sol? Será então que tudo isso é verdade, é real mesmo? Nosso personagem então se anima e passa a percorrer o corredor de difícil acesso em direção à luz.
Precisa andar agachado, rastejar, encher a boca e os olhos de poeira, as pedras machucando os joelhos, as costas raspando no teto, as mãos esfoladas. Mas a cada pequeno avanço, a luz fica mais intensa.
Em vários momentos era tão difícil de prosseguir que ele chegou a pensar em desistir. Mas só o fato de olhar para a frente e ver aquela tênue luminosidade, lá no fundo do corredor, já lhe enchia de energia e ele começava a andar de novo.
Então o corredor começa a ficar um pouco mais amplo, já é possível andar um pouco mais rápido. Já dá para ver sombras e reflexos. Agora a animação toma conta de nosso personagem e sua determinação aumenta. Nada poderá impedi-lo de chegar à tão falada luz do sol.
A alegria toma conta do personagem. A claridade começa a ofuscar a visão. Pela primeira vez na vida, ele vê coisas coloridas: musgo verde, manchas coloridas na pedra, o chão marrom... começa a sentir uma agradável brisa e sons que jamais havia escutado.
Então, ele vislumbra a entrada da caverna, e uma luz tão intensa que não consegue fixar seus olhos nela.
Nesse momento, ele SAI DA CAVERNA e fica inteiramente sob a luz do sol. A alegria é indescritível. Seus olhos vão se acostumando com a luz e ele vê árvores, grama, o céu, as nuvens, os pássaros, os animais, um riacho com água pura e cristalina, o ar puro, o vento, as flores, toda a imensidão da vida se movendo ao seu redor, tudo colorido e iluminado pela majestosa e quente luz do sol, e cada mínimo detalhe de cada momento é de intensa maravilha.
Ele corre pelos campos, prova frutas, bebe da água do rio, molha-se, rola na grama. Sobe nas árvores e brinca com os animaizinhos. Corre e brinca muito, em total êxtase, até cansar.
Então ele olha para trás e vê a sua caverna. Sente um aperto muito grande no coração, pois todas as suas referências estão lá. Todas as suas coisas, as suas ferramentas, suas lamparinas, suas roupas... Ele sente medo. Um medo mortal, pois ele sabe que agora é a hora de cortar o cordão umbilical, de se despedir de sua velha caverna e de iniciar uma nova vida. Ele chora. É muito difícil abandonar tudo aquilo que ele achou que era real. Sua caverna era tão quentinha, tão cômoda, tão segura... Então, ele respira fundo, faz uma profunda reverência à sua caverna, volta-se para a luz e parte para sua caminhada, a fim de conhecer melhor esse lugar maravilhoso e fantástico que sempre esteve à sua volta e que ele sequer imaginava existir.
Ele jamais retornará à sua caverna.
Em sua caminhada, descobre outras cavernas. Dezenas, centenas delas.
Então resolve entrar nessas cavernas. Dentro de cada uma delas tem uma pessoa. Ele pede licença, entra e tenta conversar com essas pessoas, chamar para a luz. Mas essas pessoas também estão presas demais às suas cavernas e não o escutam, em total desconfiança. Mandam-no embora.
Ele tenta em outra caverna. E outra, e outra. Ele sente muito por não ter capacidade de trazer essas pessoas para fora, para ver a luz do sol como ele viu. Mas seria um egoísmo muito grande poder desfrutar da luz do sol e não trazer as outras pessoas para junto de si, para que elas também possam se libertar. Por isso, ele jamais irá desistir de tentar trazer as pessoas à Luz do Sol.



terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Mudanças

Nada na vida é estático. Se é estático, não tem vida.

Hoje podemos estar em uma situação confortável, uma boa casa, um bom emprego, um bom carro. Amanhã, tudo isso pode virar de pernas pro ar.

Hoje você pode estar em uma cidade. Amanhã poderá estar em outra, sem qualquer referência, meio perdido, entre pessoas que você não conhece.

A vida é assim mesmo. Ela muda o tempo todo. Não temos domínio sobre isso.

Sabe aqueles planos que fazemos todos os finais de ano, os 'objetivos para o ano novo'? No final de cada ano, encontramos esses planos em alguma gaveta e percebemos que muito pouco daquilo que foi planejado realmente aconteceu. Mas por que? Porque todo dia aparecem situações novas, fatos novos, totalmente imprevistos, que alteram completamente os objetivos inicialmente traçados.

Sábio é aquele que sabe fluir com essas mudanças sem esforço, deixando-se levar pelo fluxo da vida, nadando a favor das correntes. Com essa energia acumulada, realiza grandes obras com pouco esforço. E amanhã, aquelas obras já não são importantes. Novas obras estão sendo realizadas, e assim sucessivamente.

Sem apego, vivendo o aqui-agora, basta seguir o fluxo da vida, aceitando as coisas como são e agindo de acordo com esta corrente.

Cada momento tem guardado dentro de si algo de realmente maravilhoso. O problema é que geralmente não estamos 'conectados' com o momento presente e não percebemos as maravilhas que estão ao nosso redor, a todo instante.

Faça este exercício: Pare agora, por 30 segundos, e apenas observe as coisas à sua volta. Mesmo dentro de um escritório frio, há algo de maravilhoso acontecendo. Se olhar pela janela então, verá o esplendor do dia em toda sua exuberância, os pássaros voando e o sol brilhando (ou a chuva caindo) em seu próprio ritmo silencioso e na mais profunda paz, sem dar qualquer importância à correria insana da sociedade humana. E isso é muito mais do que maravilhoso.

"Cada momento é novo" - Saikawa Roshi

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Cobranças e Obrigações

Tenho percebido que o nível de cobranças, obrigações e responsabilidades aumenta a cada dia.

Isso é muito interessante, pois ao mesmo tempo fico sabendo de casos de pessoas que simplesmente não estão nem aí com a vida e passam os dias de forma totalmente irresponsável e sem qualquer respeito aos seus próximos ou ao meio ambiente onde vive.

Por isso penso que o aumento progressivo das obrigações e responsabilidades é inerente ao avanço no Caminho, pois a cada dia nos tornamos mais conscientes de alguma coisa e portanto adquirimos responsabilidade sobre aquilo que compreendemos.

As pessoas nos cobram uma postura cada vez mais íntegra, mais ética, mais profissional. A sociedade exige resultados, rapidez, agilidade, desempenho, crescimento profissional e financeiro.

Com a mente clara e consciente, apenas baixamos a cabeça para essas novas exigências e dizemos "Hai" - Sim. Aceitamos as novas responsabilidades sem medo e até puxamos para nós responsabilidades que não seriam nossas.

Quando chega o ponto que percebemos que o nível de cobrança é maior do que nossa capacidade de atender às nossas responsabilidades, ao invés de reclamarmos ou de cair em depressão, pelo contrário, pedimos ainda mais responsabilidades e damos mais duro no trabalho.

Alguns ajustes nas rotinas liberam tempo e, com organização e disciplina, conseguimos dar conta do recado.

Alguns dias depois, olhamos para trás e percebemos que vencemos mais um grande desafio, aprendemos, crescemos e nos tornamos seres humanos melhores.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Vida Simples

"...Precisamos mostrar que viver com simplicidade, com a prática do dharma, pode ser algo que nos realiza muito. As pessoas precisam ver e vivenciar isso primeiro para se convencerem. Em Plum Village, rimos o tempo todo e, ainda assim, nenhum de nós tem uma conta no banco.
Ninguém tem um carro particular ou seu próprio celular. Só consumimos alimentos
vegetarianos. E não sofremos por não comermos ovos ou carne. Na realidade, isso nos deixa mais felizes, pois sabemos que não estamos consumindo seres vivos e protegemos nosso planeta. Isso traz muita alegria. Temos a sorte de conseguirmos viver assim e de nos alimentarmos dessa forma..."

Thich Nhat Hahn
http://opicodamontanha.blogspot.com/2012/01/entrevista-com-thich-nhat-hanh.html

O Samadhi sem esforço

Após alguns anos de prática de meditação, é possível entrar em Samadhi em poucos segundos, em qualquer lugar, quando se desejar.
O praticante torna-se senhor do Samadhi. Tem domínio sobre ele.
No começo, é necessário grande esforço e fazer uso de muletas como mantras, visualizações, exercícios respiratórios, mentalizações, etc. Após vários minutos repetindo incessantemente um mesmo mantra, por exemplo, a mente se cansa e o Samadhi pode aparecer.
Quando há o domínio sobre o Samadhi, ele pode ser instalado a qualquer instante sem esforço. Basta uma única respiração profunda e prestar atenção no aqui-agora, deixando os pensamentos irem e virem, sem qualquer apego. Os pensamentos são como anzóis lançados contra a mente, mas se ela não lhes dá atenção, os anzóis não conseguem fisgar nada e a torrente de pensamentos se quebra. Repentinamente a mente cansa, se torna tranquila e límpida sem nenhum esforço e o Samadhi acontece.
Com a prática, o Samadhi vai ficando mais profundo, mais claro, mais pleno. Você começa a perceber que está no comando, que sua mente não está mais o carregando de um lado para outro como uma folha solta no rio. Você está no centro, e usa a mente para fazer o que quiser. As situações são mais claras, os sentimentos são mais verdadeiros, as decisões são mais fáceis, as ações geram maiores resultados.
Mesmo que você estivesse em uma prisão sua mente continuaria livre. Mesmo que estivesse mergulhado no pior dos infernos, ainda assim veria a beleza ao seu redor e estaria feliz. Mesmo afundado na mais negra e profunda escuridão, sua luz continuaria a brilhar intensamente.
E sem esforço.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

ALTAR DE BUDDHA




















Não é necessário ter um altar de Buddha em casa. Nem uma estátua de Buddha. Ninguém precisa ter. Mas para os que quiserem, basta ter em mente que não precisa muita coisa para se montar um belo altar.

Escolha um local adequado, sem movimento, preferencialmente onde você pratica meditação. No meu caso, montei o altar sobre um pequeno criado-mudo no canto do quarto.

O mais importante é que o altar tem o objetivo de reverenciar o Buddha. Para isso fazemos a oferenda de flores, água e/ou óleo, incenso e velas.

Esses elementos ficam dispostos como na foto: flores do lado esquerdo, vela do lado direito, incenso à frente da imagem de Buddha e um recipiente com água ou óleo no meio, entre a imagem de Buddha e o incenso.

A imagem de Buddha pode ser uma estátua, grande ou pequena, de madeira ou qualquer outro material, ou uma foto ou qualquer coisa que tenha para você o significado de sua natureza búdica. Uma amiga minha usa uma minúscula estátua de um santo católico, pois ela associou esse santo a Buddha quando ainda era criança. Um outro amigo meu tem uma pedra de rio meio redonda e até parecida com aquela famosa estátua do Buda gordo. Como a natureza búdica está em todo lugar, qualquer coisa pode representar o Buddha.

A estátua ou imagem geralmente fica mais elevada que os demais elementos. No meu caso eu sentei ela em cima da caixa de fósforos que uso para acender os incensos.

As flores podem ser vivas, em um vaso (como o meu) ou colhidas e trocadas sempre que murcharem. As flores servem para nos lembrar da impermanência das coisas. Tudo que é vivo e belo, um dia envelhecerá, enrugará e morrerá. Assim é a natureza.

Este altar que montei não deve ter custado mais do que R$ 10,00, com estátua e tudo. Mas cada um é livre para fazer como quiser e gastar o quanto quiser.

Existem altares prontos à venda. São móveis muito bem trabalhados, lindíssimos, com portas de vidro e todos os elementos dispostos em prateleiras. Preciosas peças de decoração, como pode ser visto na figura abaixo:



Dizem que um altar tem também a função de proteger a residência e as pessoas que nela moram, mas isso é pura superstição.

Enfim, cada um pode fazer seu altar da forma como preferir. O que importa é a intenção. Além disso, precisamos nos lembrar sempre que Buddha não pode ser encontrado FORA de nós, em nenhum móvel ou estátua, mas sim DENTRO de nós, e essas oferendas nada mais são do que um sinal de respeito pela natureza búdica à qual todos nós pertencemos.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Evolução do Samadhi

Não sei se é com todo mundo, mas para mim, com o passar do tempo e da prática constante de meditação sentada, ficou cada vez mais fácil e rápido entrar em Samadhi, e a qualidade do Samadhi também está melhor.
Uma das melhores horas do dia para praticar meditação é no caminho para o trabalho e de volta para casa. Longos períodos de plena atenção na rua.
E sobre um zafu, o Samadhi vem rápida e facilmente. Permaneço em uma sucessão longa de curtos períodos naquele estado de aqui-agora onde não há esforço, nem pensamentos ou julgamentos, e nada se deseja.
Apenas o maravilhoso momento presente na mais profunda paz, com a mente totalmente receptiva. Nada a discriminar ou rotular, basta aceitar tudo exatamente do jeito como é.
Começo aos poucos a entender os votos dos Bodhisattvas. Eu gostaria de poder libertar todas as pessoas de suas prisões mentais. O sofrimento é uma ilusão enorme gerada pelo apego da mente a conceitos e hábitos totalmente equivocados e irreais. É tão fácil simplesmente viver e deixar viver, desfrutando da perfeição deste momento, aqui e agora... Ao invés disso, preferimos permanecer como zumbis na frente da TV ou torturarmos nossa mente em um labirinto de problemas sem saída.
Os problemas são intermináveis e se interligam em um emaranhado tão intrínseco que não conseguimos perceber que, na verdade, eles não existem. O que existem são fatos que, como tais, são impermanentes. Nada é eterno. Porém, nossa mente se apega a eles e cria uma armadilha da qual não consegue escapar e, por isso, sofremos.
Os fatos existem e precisamos aceitá-los, resolvê-los ou abandoná-los. Cabe a cada um a opção de sofrer por causa deles ou não.
Cada um vive do jeito que quer. Eu prefiro a liberdade, mas gostaria que todos também fossem livres e que pudessem vislumbrar pelo menos um pouquinho da realidade como ela é. Nem que fosse por um único momento.
"Conhecei a Verdade e ela vos libertará".

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

2012

Feliz ano novo.

Qualquer leigo pode achar a coisa mais chata do mundo alguém tentar lembrar que a idéia de tempo foi criada pelo homem, que não existe passado nem futuro, que só o que temos é o presente, portanto não faz qualquer sentido falarmos sobre 'ano novo'. Sequer 'ontem' ou 'amanhã'.

Mas esse é um blog sobre budismo e preciso tocar nesse assunto.

Nesses dias de festividades tomei a liberdade de ir ao costão da Guarda do Embaú para meditar um pouco. Em um local o mais reservado da vista dos turistas possível. Lá, olhando para as ondas estourando nas pedras, aprofundei bastante a meditação e tive alguns insights interessantes.

As ondas estouravam nas pedras, e atrás das pedras havia algumas piscinas naturais.

Algumas ondas são fraquinhas, às vezes devoradas pelas ondas maiores que vêm atrás e nem sequer chegam à praia.

Outras são mais fortes, conseguem chegar à praia, estouram nas pedras e conseguem derramar alguma água sobre as piscinas naturais, ou seja, mesmo após 'morrer', deixam uma continuidade.

Poucas ondas são realmente muito fortes, do tipo que utiliza a energia das ondas menores, arma-se com grande poder e arrebentam-se às pedras jorrando respingos a elevadas alturas. Como um mini-tsunami, invadem as piscinas naturais com violência e após 'morrer' nas pedras continuam com força, levando água e espuma até locais normalmente intocados e secos.

Agora fazemos um paralelo, comparando essas ondas com a nossa vida atual. Que tipo de 'onda' você é? Que tipo de contribuição você está deixando para o mundo? Quantas pessoas você está afetando, e de que forma?

Você vive uma vida medíocre, sem deixar marcas, sem alcançar seus objetivos, sem preocupação com sua continuidade, sem ajudar outras pessoas, sem integrar-se à comunidade ou ao seu meio-ambiente, ou mesmo às coisas à sua volta? É apenas um número, uma sombra a mais na humanidade sem qualquer importância?

Ou você é uma pessoa normal, que consegue alcançar alguns objetivos, influi de certa forma sobre outras pessoas e está deixando uma continuidade para as gerações futuras?

Ou então você é uma pessoa excepcional, um Boddhisattwa, um grande líder que influencia poderosamente sobre as outras pessoas, que com pouco esforço causa enormes resultados, e que está deixando um legado para o futuro como um verdadeiro tsunami?

Se você é uma onda do primeiro tipo, medíocre, e se tem interesse em tornar-se uma onda poderosa e deixar uma grande contribuição para a humanidade, então você precisa verificar o que é que está tirando sua energia, o que está bloqueando suas ações, o que está minando seus esforços.

Resolva esses bloqueios, libere sua energia e as pessoas ao seu redor perceberão o seu avanço, as melhorias que acontecem na sua vida, o brilho nos seus olhos.

Faça essa reflexão sobre sua vida. Como você pode se livrar das coisas que consomem sua energia, seus recursos, e como você pode se tornar a mudança que você quer no mundo? Como você pode simplificar sua vida, alocar melhor seus recursos e dedicar a realizar seus maiores objetivos?

Se 2012 for realmente o último ano antes de um grande holocausto, você tem bem pouco tempo para tornar-se uma onda poderosa e realizar seus mais profundos sonhos. E se não for o fim do mundo, lembre-se que o tempo não existe, que você só tem o momento presente, então a situação é bem pior: Você precisa realizar-se HOJE.

Dedique-se a viver o seu sonho e torná-lo realidade, aqui e agora.

Sucesso, felicidades, paz e harmonia.