segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Apenas Sentar

Uma das instruções para a prática da meditação é "apenas sentar".
Parece tão simples, tão fácil. Então, praticar meditação é só isso? Só sentar?
Sim.
Mas então, qual a dificuldade?
É extremamente difícil você "apenas sentar". Tente. Em sua mente, um milhão de pensamentos irão passar em uma corrente, um atrás do outro. Coisas a fazer, contas a pagar, coisas que deveriam ter sido feitas, lembranças... a mente fica pulando do passado para o futuro o tempo todo, e não se fixa no presente.
Conforme os pensamentos vêm à mente, devemos abandoná-los, deixá-los ir embora sem qualquer apego.
Em determinado momento, a mente se cansa e então conseguimos "apenas sentar", por breves segundos.
Mas se sentamos com um objetivo, nem que seja "alcançar o Samadhi", não há êxito. O correto é nada desejar. Simplesmente sentar.
Nossa mente está treinada para funcionar 24 horas por dia. Quando repentinamente paramos, ela tenta de toda forma nos tirar deste estado contemplativo, ela quer agito, quer barulho, quer ação.
Mas quem quer agito, barulho, ação? O ego. Cada pensamento que vem à mente é um ego querendo respirar. Se "apenas sentamos", não estamos alimentando os egos e, aos poucos, lentamente, eles vão perdendo força, até desaparecerem completamente. É claro que os egos não querem morrer, por isso a mente vai tentar de toda forma sair do estado contemplativo.
Por isso, é necessário muita prática e muito esforço para conseguirmos "apenas sentar".
Mas quando conseguimos ficar em estado meditativo por uma grande sucessão de pequenos períodos, então abre-se a possibilidade de termos insights e experiências diretas da iluminação (kenshôs). Aí, o mundo muda e a iluminação torna-se possível.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Samadhi

Há alguns dias perguntei para uma praticante amiga minha sobre suas experiências com meditação, ou seja, como estava seu Samadhi. Ela me contou que nunca teve um Samadhi.

No momento preferi silenciar. Mas eu deveria ter dito: "com certeza absoluta, já teve sim".

O Samadhi é o estado natural da mente. É como víamos o mundo até perto dos quatro ou cinco anos de idade. Apenas sentíamos, percebíamos as coisas, sem rótulos, sem julgamentos. Mente receptiva. Apenas estar aqui e agora, com toda a plenitude e consciência. Nada mágico, apenas natural, estávamos simplesmente aprendendo.

Só depois dos quatro ou cinco anos é que passamos a pensar em palavras e construir personalidades para cada desejo, para cada apego, ou seja, passamos a criar nossos egos, camada após camada. Quando nos tornamos "adultos", estamos totalmente obscurecido debaixo de centenas ou milhares de camadas de egos, como cascas de uma cebola. Quanto mais apego a elas, mais sofremos.

Quando iniciamos a prática da meditação, pode demorar alguns meses ou até alguns anos, mas logo sentiremos aquela sensação de paz e tranquilidade profundas que antecedem o Samadhi e, repentinamente, temos a experiência do Samadhi. Nesse momento lembramos imediatamente de nossa infância, de como pensávamos quando éramos crianças. Percebemos então que já tivemos esta experiência antes.

Após alguns anos de prática, nos tornamos "proprietários" do Samadhi. Podemos entrar neste estado natural da mente quando bem entendermos, conscientemente, a qualquer momento: trabalhando, dirigindo, comendo, lavando a louça, conversando com as pessoas... tanto faz se você está no meio de um trânsito infernal ou às margens de uma cachoeira no meio do mato, o Samadhi é o mesmo. O centro está dentro de você, e não fora.