As formas ao nosso redor nos chegam por meio dos nossos cinco sentidos. Nossa mente percebe apenas uma parte dessa informação e começa então a processá-la. Vou usar uma alegoria própria para ilustrar a forma como esse processamento é feito:
Inicialmente, a informação é passada para o setor de "piloto automático", onde uma infinidade de estagiários procuram as reações corretas para cada estímulo, baseado em uma série de fichas pré-cadastradas, divididas em três categorias: as reações instintivas (nascemos com elas), as habilidades (treinamentos de repetição) e as respostas prontas (aprendizado).
Para cada estímulo há uma série de reações possíveis, que são divididas como cartas, separadas por cores. Dependendo do estado mental vigente no momento, o estagiário seleciona a carta com a cor correspondente.
O estado mental vai ser profundamente estudado mais tarde, mas vamos resumir: são os seis reinos citados na filosofia budista: reino dos deuses, dos semideuses, dos humanos, dos animais, dos seres famintos e dos infernos. Vamos imaginar que cada um deles tenha uma cor.
Imagine que você está dormindo e, repentinamente, toca o despertador. Se você estiver no reino dos humanos, você desliga o despertador, se levanta e vai se arrumar. Se estiver no reino dos animais, desliga o despertador e continua dormindo. Se estiver no reino dos infernos, você destrói o despertador.
Essas são reações automáticas, tomadas inconscientemente, de acordo com nosso estado mental no momento. Agimos no piloto automático a maior parte do tempo, sem perceber.
Se você estiver em uma padaria comendo um pão de queijo e se estiver no reino dos deuses, vai achar o pão de queijo uma porcaria indigna ao seu paladar exigente. No reino dos humanos, come sem nem se dar conta pois está preocupado com sua agenda. No reino dos seres famintos, o pão de queijo é insuficiente, você quer mais. No reino dos infernos, você se culpa e se martiriza porque está comendo algo que não é saudável e vai te fazer mal.
Os estagiários do piloto automático são muito importantes. Precisamos muito deles. São eles que dirigem nosso carro e que respondem "hã-hã" a alguém que está tagarelando assuntos que não nos interessam. São eles que nos permitem tomar banho e escovar os dentes. A andar de bicicleta, a dar um salto para trás quando aparece uma cobra, a repetir orações na igreja, a levantar uma parede de tijolos e a fazer todo o tipo de trabalho repetitivo que não exige muito raciocínio. Podemos praticamente viver o tempo todo apenas com os estagiários dirigindo nossas vidas.
Nascemos com algumas instruções já gravadas e esses são nossos instintos. Ninguém nos ensina a mamar, já nascemos sabendo. Temos medo de aranhas mesmo sem nunca ter visto uma. Não precisamos pensar para respirar, nem para coçar onde está coçando.
Quando precisamos de habilidades novas (como aprender a dirigir um carro, por exemplo), recebemos diversas instruções que são repetidas inúmeras vezes, até que os estagiários estejam com todas as cartas correspondentes e que já saibam fazer tudo sozinhos. Daí em diante, temos uma habilidade nova e não precisamos mais ficar pensando no que fazer, qual pedal apertar, que marcha colocar ou quando devemos ou não pisar no freio. É automático.
Por último, recebemos algumas cartas novas quando temos um aprendizado: Aprendemos uma única vez que o fogo queima, que se jogarmos uma pedra em um vidro ele vai quebrar, que o botão para ligar o rádio é aquele redondo. Uma vez aprendido, já sabemos, não precisamos aprender de novo, não precisamos repetir.
Enfim, o piloto automático é bastante útil para nos movermos no mundo com as dificuldades do dia a dia. Mas os estagiários não sabem resolver tudo, não possuem todo o conhecimento e precisam de monitoramento constante. Muitas vezes, precisamos trocar as cartas deles por outras melhores, mais eficazes, mais inteligentes, mais apropriadas. E os responsáveis por esse monitoramento e atualização são os dois gerentes da mente - o gerente lógico e o gerente emocional - que veremos logo a seguir.
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