quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Decifrando a mente #5 - o macaco louco

 


Nossa mente é muito complexa e fantástica. Possui certos atores (ou funções) que beiram a insanidade. Um desses atores é o que chamo de "macaco louco".
Essa figura tem uma função bastante questionável: fica o tempo todo jogando coisas na mente, aleatoriamente, às vezes sem qualquer conotação com coisa alguma que esteja acontecendo no momento.
O macaco louco busca fragmentos de memória, frases desconexas, imagens bizarras, antigas lembranças de aromas, gostos ou sons, músicas, nomes, emoções, desejos, lugares, bem como tarefas e coisas a fazer, enfim, qualquer coisa que esteja armazenada em nosso cérebro, e joga em nossa tela mental. Sem sentido, sem causa prévia. Apenas sorteia alguma coisa e traz à tona. Um flash instantâneo que é transportado para nossa tela mental.
Acontece que nossa tela mental alimenta a nossa percepção. Então, aquele fragmento de memória ou frase aleatória é percebido pela nossa mente, podendo dar origem a uma corrente de ideias, capaz de ocupar nosso cérebro por horas. Também pode ser considerado inexpressivo ou sem importância e ser simplesmente descartado como lixo mental.
O macaco louco é responsável por manter nossa memória ativa, revivendo situações e sentimentos que estavam guardados há muito tempo. Pode ser útil para nos lembrar de pessoas e sensações das quais já havíamos nos esquecido.
Ele também fica tocando música na nossa rádio mental, recitando frases e versos que podem ou não fazer algum sentido, insistindo em palavras que não lembramos o significado e repetetindo nomes e títulos que podem existir realmente ou não.
Uma característica secundária da atividade insana desse ator é o fato de que, às vezes, lembramos de coisas importantes para fazer e, de repente, ele nos traz outro assunto à tona, nos fazendo esquecer completamente daquilo que era importante antes. Ele nos distrai. Aí ficamos tentando lembrar: o que é mesmo que eu ia dizer ou fazer? Por vezes, nem lembramos que havia algo importante a ser dito ou feito. Seguimos distraídos.
Durante as práticas de meditação, aprendemos a silenciar ou pausar o macaco louco, inicialmente por poucos segundos, depois por períodos maiores. Quando isso acontece, ocorre um imenso sentimento de paz e alívio, afinal, é como termos um papagaio em nosso ombro falando ininterruptamente o dia inteiro e que, de repente, esse papagaio se cala. É exatamente a mesma sensação: um silêncio, uma paz, um vazio revigorante que nos traz novamente ao momento presente.
Mas o macaco louco não fica calado por muito tempo. Ele continua com as funções dele. Mesmo com estágios mais avançados de domínio da mente, ele estará sempre lá, abrindo caixas e jogando tudo o que tiver dentro para fora, sem parar. Só que mais baixinho, talvez não tão rápido.
Em um estágio ainda mais avançado, se torna realmente divertido ficar assistindo as desastradas trapalhadas do macaco louco e todas as coisas incríveis que ele consegue desencravar dos recônditos mais esconsos do nosso cérebro. Mas, nesse momento, temos o controle total para mandá-lo de volta para a casinha, de onde ele apenas acena as mãos de vez em quando.
Nesse ponto, vale entender que distração é diferente de diversão. O macaco louco nos distrai. A atividade incontrolável do macaco louco é a origem do TDAH e de outros transtornos de atenção. Mas podemos manter o foco e apenas nos divertir com suas peripécias, sem esquecer daquilo que realmente é urgente ou importante a ser feito. A medicação nos ajuda a acalmar e calar o macaco louco, mas a meditação nos ajuda a olhá-lo de forma divertida, sem que nos atrapalhe.



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