A mente funciona como um poderosíssimo e extremamente complexo computador. Como tal, é óbvio que ela precisa ser alimentada por uma fonte de energia.
Mas a energia que faz a mente funcionar possui alguns diferenciais. Não é apenas energia elétrica pura. Ela tem impulsos que nos movem e que definem o caminho que devemos seguir. Esses impulsos (cármicos) são tão fortes que é muito difícil conseguirmos resistir a eles.
O exemplo mais simples é o impulso sexual. Podemos estar fazendo qualquer coisa e, por qualquer ou nenhum motivo, do nada sentimos um fogo que simplesmente incendeia tudo pela frente. O corpo imediatamente se aquece, a visão e a audição se turvam e ficam focadas apenas naquilo que despertou nosso desejo. O corpo manifesta ereção e lubrificação, nossa respiração fica mais ofegante, nossas mãos suam. E todas as nossas ações passam a tentar levar a cabo a satisfação imediata do desejo sexual. Surge uma energia fenomenal que nos permite grandes esforços físicos e, após a satisfação, no homem, a energia simplesmente cessa, permanecendo ainda latente na mulher por mais alguns minutos. Devido ao desgaste energético, precisamos parar, descansar, acalmar a respiração e os batimentos cardíacos, e nos vestir ou cobrir novamente, pois a temperatura do corpo volta para o normal. Sentimos frio com bastante rapidez. Logo depois nos sentimos fracos, satisfeitos mas com baixo nível de energia. Precisamos nos alimentar, beber água, respirar e fazer atividades com menor gasto energético para recuperarmos o nível normal das nossas baterias internas, o que pode levar até algumas horas.
Outro exemplo é a raiva: lembram do javali, do galo e da cobra? Se alguém fere o nosso javali (nos ofende, insulta ou provoca), a cobra salta em sua defesa. A energia simplesmente aparece. O sangue sobe à cabeça, ficamos enrubescidos, crispados, prontos para atacar. A raiva também ofusca a nossa visão e turva nossos pensamentos. Passamos a discutir selvagemente, por vezes de forma completamente irracional. Acabamos tomando ações de corpo, fala e mente que agridem, ferem ou até matam. Depois da briga, voltamos ao normal e percebemos que perdemos completamente a razão. Dissemos ou fizemos coisas que não deveríamos e então colheremos as consequências disso. Poderemos estar feridos, arrependidos, humilhados. Poderemos perder amigos, oportunidades, arranjar problemas sérios, inimigos e sofrer vinganças. Sim, nossas ações sempre geram consequências.
Diferente da raiva, também temos a ira: uma mãe que está passeando na rua com sua filha, de repente percebe que a menina se solta e tenta atravessar a rua, sendo que um carro está vindo e vai atropelá-la. A mãe simplesmente salta e puxa a sua filha de volta, em uma ação irada que ela mesma jamais pensaria ter capacidade física para realizar. A energia simplesmente apareceu. Ela seria capaz de pular um muro de dois metros de altura. Levantaria um tronco de mais de cem quilos. Ela quebraria um pescoço com as próprias mãos para salvar sua filha e, nesse caso, não seria por raiva, mas pela ira. A ira salva, enquanto a raiva mata. São energias diferentes, igualmente intensas, mas diferentes.
O medo também é outro tipo de energia. Ele pode simplesmente nos paralisar. Não conseguimos falar nem nos mover. Ficamos atônitos e imóveis até o perigo passar. Mas também pode nos dar uma energia descomunal para a fuga. Corremos mais rápido e muito mais longe do que pensaríamos ser capazes. Saltamos obstáculos e distâncias que normalmente não conseguiríamos. O medo também nos prepara para o enfrentamento, de forma idêntica à ira: somos capazes de qualquer coisa para salvar nossa própria vida.
O nível de energia que temos é resultado de uma série de fatores: a motivação, a alimentação, o sono, as condições físicas etc. Um exemplo é quando jogamos uma bola na direção de um cão: ele pode apenas abanar o rabo, sem sair de seu lugar, mas ao pegar a coleira para passear, ele salta como se tivesse sido ligado em uma tomada. A motivação para passear na rua é muito maior do que a de brincar com uma bola. Da mesma forma, podemos estar na cama, prontos para dormir, mas se alguém convida para uma festa, surge do nada uma energia que nos faz trocar de roupa e, animadamente, correr para o evento. (anima em latim quer dizer justamente "energia vital").
No budismo tibetano, essa energia é chamada de Lung. Ela não vem da comida que ingerimos, ela apenas surge. São os ventos autossurgidos que se tornam veículos da nossa consciência, superando as capacidades do nosso corpo e da nossa mente. O Lung é profundamente estudado no Tantra, onde aprendemos a entender, controlar e direcionar essa energia interna, através das quatro qualidades e das seis perfeições: amor, compaixão, empatia, equanimidade, generosidade, moralidade, paz, energia constante e sabedoria. O lung, em toda a sua plenitude, é despertado quando alcançamos o estado de paz interior. Nesse momento, a energia passa a estar disponível o tempo todo para a consciência. Os meios hábeis surgem. Nos tornamos capazes de fazer e motivar as pessoas a fazer coisas simplesmente impensáveis, de modo que jamais seríamos capazes de fazer de outra forma. É o lung que faz, por exemplo, com que uma estátua de Buda com 35 metros de altura seja erguida em uma região remota do Espírito Santo, ao custo de quatro milhões de reais, algo completamente impensável para uma modesta entidade sem fins lucrativos. É o lung que faz com que o CEBB (outra entidade sem fins lucrativos) tenha dez aldeias rurais no Brasil e dezenas de salas de estudo em todas as regiões brasileiras.
É o lung que mantém as coisas vivas. O lung mantém o nosso corpo. Quando o lung se apaga, o corpo morre. Mas ele não se restringe a um corpo vivo. É assim também com tudo o que fazemos: empresas, cidades, impérios, tudo isso se mantém enquanto houver lung. No momento em que o lung termina, as empresas fecham, cidades desaparecem, impérios implodem. Uma estrela se mantém viva por bilhões de anos enquanto tiver lung para isso. Quando o lung cessa, a estrela esfria, se expande e colapsa em uma anã branca ou em um buraco negro.
O lung está além daquilo que é manifesto. Na verdade, é o lung que faz com que as coisas se manifestem. Ele vem antes. Ele está lá, vivo, acessível, o tempo todo. A energia que temos em nossa mente é apenas uma fagulha dele. As coisas só conseguem se manifestar se tiverem lung para isso, e se mantém manifestas apenas enquanto durar o lung.
Em nossa mente, a energia é controlada (mas também influencia) as nossas emoções. É o gerente das emoções que possui a chave da energia. O gerente lógico não tem. Nosso gerente lógico aprende o caminho para o despertar, mas é o gerente das emoções que realiza o trabalho com a energia, até alcançar o estado de paz interior, quando então há o despertar da consciência. Dali em diante, é a consciência que controla a energia.
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