segunda-feira, 6 de outubro de 2025

21 semanas #5 - Prajnaparamita

 


Um dos pilares centrais do budismo Mahayana é o Prajnaparamita. Entendemos que tudo o que existe é construção da nossa mente. As coisas não são como parecem, nem como imaginamos que elas sejam. As coisas não possuem uma realidade intrínseca sólida. Nada que existe possui uma identidade, tudo é vazio de uma identidade intrínseca. Tudo é vacuidade. Nossa mente mora na vacuidade e é desse vazio que projetamos tudo o que percebemos ao nosso redor, mas as coisas não são como percebemos. 

O mantra do prajnaparamita sugere que estamos em uma margem e precisamos atravessar para a outra margem. Por isso a alegoria de um barco. Nesta margem, vemos as coisas com a projeção da nossa mente: casas, árvores, automóveis, pessoas, montanhas. Tudo parece ser normal. Durante a travessia, vamos percebendo que tudo isso é criado em nossa mente a partir de um vazio luminoso. Ao chegarmos do outro lado, entendemos que tudo o que existe é vacuidade. Atravessamos completamente e repousamos na vacuidade. É isso que quer dizer o mantra: GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SWAHA.

Uma árvore não é uma árvore. É um conjunto de incontáveis coisas que formam aquilo que nossa mente rotula como árvore. E mesmo cada um de seus componentes, em si, não são esses componentes. Eles também são vacuidade, eles também não possuem uma identidade. Nada que vemos ao nosso redor é como pensamos que é.

Um edredom dobrado em cima da cama não é um edredom. É um amontoado de fiapos trançados e costurados com um recheio de fibras. Se olharmos no microscópio, não existe edredom em lugar algum. Nem as fibras, nem os fiapos. Só há vazio, algumas moléculas que se conectam com outras de uma forma ligeiramente organizada, sendo que seu conjunto completo cria uma forma que nossa mente, de acordo com seus referenciais, interpreta como "edredom". Então, aquele edredom não é um edredom. Não existe edredom, mas a nossa mente cria a ideia de um edredom a partir do vazio luminoso onde opera e a projeta sobre aquilo que nossos olhos estão vendo. O edredom só existe na nossa mente. Para uma traça, aquilo não é um edredom, é comida, porque os referenciais da traça são outros. Para um pássaro, é uma fonte de material para se fazer um ninho. Para um cão, é um brinquedo pronto para ser destruído. No momento em que nossa mente enxerga o edredom, ela deixa de ser capaz de ver o vazio luminoso que há por trás dele. O prajnaparamita é a sabedoria que nos permite perceber a vacuidade em tudo o que existe. Forma é vazio, vazio é forma, nada mais.  

#06/10/25, segunda feira: refúgio, linhagem, motivação, shamata, methabavana. Cinco minutos observando o edredom à minha frente e mais cinco minutos contemplando. A compreensão do prajnaparamita ainda está em um nível bastante racional, apesar de presente durante todos os dias, quase o tempo todo.

 


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