Outro ator importante da nossa mente é o narrador. Ele é quase uma extensão do macaco louco, mas tem umas funções um pouco diferentes.
Enquanto o macaco louco passa o tempo todo varrendo a memória atrás de coisas que podem ser interessantes, o narrador fica repetindo frases ou traduzindo aquilo em que pensamos.
Quando abrimos a janela e vemos um lindo sol nascente, o narrador descreve: "está um belo dia lá fora e o sol está nascendo". Ao prepararmos arroz para o almoço, o narrador lembra: "para cada porção de arroz, são duas porções de água". Quando estamos lendo algum texto, o narrador lê esse texto "em voz alta" para a gente. Aliás, um dos métodos de leitura dinâmica consiste justamente em calar o narrador enquanto lemos, afinal, nós captamos o significado do texto muito mais rápido do que nossa capacidade de "ler" o mesmo texto mentalmente.
O narrador pode também exercer funções como um tradutor para outros idiomas. Dessa forma, ao lermos as palavras "the book is on the table", ele traduz para "o livro está sobre a mesa". Como na leitura dinâmica, o aprendizado de outros idiomas também busca "calar" o narrador para que entendamos o significado do texto sem tentar traduzi-lo mentalmente.
O narrador fica lendo placas, outdoors, fica cantando músicas, enfim, ele traduz em palavras tudo o que estivermos pensando ou percebendo no momento. Isso pode ser útil quando estamos repetindo coisas para não nos esquecermos depois, mas na imensa maioria do tempo, ele apenas gasta energia mental e atrasa nosso pensamento, nossas percepções e nosso entendimento. Imagine um computador que precisa fazer um determinado cálculo e, para cada função, ele precisa parar e narrar o que está fazendo. É uma imensa energia desperdiçada sem qualquer necessidade prática.
O narrador tem suas funções no nosso dia a dia e pode até ser útil às vezes, mas, assim como o macaco louco, ele pode perfeitamente ser desligado e guardado na caixinha até o momento em que ele seja útil para alguma coisa. Se conseguirmos fazer isso, teremos liberado uma energia gigante para nosso cérebro, e não é tão difícil assim silenciá-lo.
Quando estamos praticando shamata pura, ou zazen, o narrador fica em silêncio. Ele se cala quando estamos atentos no momento presente com a mente perceptiva. Assim, vamos aprendendo a silenciar o narrador e a acalmar o macaco louco, liberando energia para nossa consciência, como veremos nas nossas próximas postagens.
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