Outro ator importante dentro do estudo da mente é o Fracassado. Ele é composto por vários outros aspectos: o sabotador, o incauto, o procastinador, o porra-louca, enfim, todos os agentes que nos levam, de uma forma ou outra, a fracassar miseravelmente em qualquer empreitada.
O Fracassado tem uma origem cultural: nós somos ensinados a sermos fracassados. Aprendemos a nos auto-sabotar, a procrastinar, a começar coisas e deixar pela metade, a não finalizar corretamente, a ficar começando coisas o tempo todo sem dar sequência, a não ter persistência.
Mesmo dando continuidade aos projetos, às vezes decidimos por caminhos que acabam trazendo mais problemas do que soluções. Entramos em projetos duvidosos sem as devidas precauções. Acreditamos nas pessoas menos confiáveis. Compramos histórias mirabolantes e decidimos que podemos subir uma montanha calçando sandália de dedo.
Existe um gatilho que dispara o fracassado: a autocomiseração. Ser o coitadinho. E isso vem de berço: quando ainda estávamos engatinhando, tentávamos empilhar alguns brinquedos e, quando a pilha caía, nós chorávamos. Ao nos ver chorando, mamãe nos pegava no colo e nos acalentava. Aprendemos que o nosso fracasso gera uma reação acolhedora. Aprendemos que o fracasso nos proporciona prazer. Fracasso gera dopamina. Se eu não consigo cortar a carne, mamãe corta pra mim, então nunca vou me esforçar para aprender a cortar a carne direito, pois quero ter sempre a atenção da mamãe. Se eu não fracassar e chorar, posso conseguir fazer, mas não vou ganhar colo, e o colo é mais importante que a vitória.
Isso aconteceu lá na primeira e mais tenra infância, mas ficou gravado para o resto da vida. Fomos crescendo e, em algumas circunstâncias, isso foi continuando. Como adultos, talvez o extremo desse ator possa ser visto nas sinaleiras, mendigando: quanto pior, quanto mais mal vestido, mais sujo, mais deplorável, melhor. Mais as pessoas sentirão pena e, assim, mais dinheiro darão em forma de esmolas. A pior forma possível de fracasso é recompensada pela solidariedade, pelo sentimento de pena dos outros, ou até pela sensação de "aqui está seu dinheiro, agora suma da minha frente". As pessoas pagam para não ver a miséria.
O Fracassado nesse caso é, geralmente, um adulto mimado em excesso. Não posso comer um chocolate, então eu choro, assim mamãe me dá o chocolate. Quando adulto, seguimos chorando e lamentando, pois aprendemos que é o caminho pelo qual conseguimos mais facilmente alguma recompensa por algo que não merecemos. Mas isso tem um custo: seremos sempre medíocres, pois nos contentamos com o prêmio de consolação. Falharemos de propósito, inconscientemente.
Claro que essa não é a única causa da pobreza, da miséria, da situação de vulnerabilidade. Estou abordando somente o fracassado profissional, aquele que aprendeu a ser fracassado de berço.
O Fracassado faz uso de várias artimanhas para jamais conseguir vencer em alguma coisa. Começa a ler um livro e não termina. Começa uma reforma que nunca tem fim. Aquela arrumação do quarto ainda tem caixas empilhadas há dois anos. As panelas ficam no fogão para serem lavadas no dia seguinte. Não dá pra passear de bicicleta pois é preciso consertar o freio, mas vou fazer isso amanhã. Estou escrevendo um artigo, mas ainda não finalizei porque acho que ainda não está bom o suficiente. Não alcancei as metas de vendas porque deixei para ligar para os clientes na última semana e não deu tempo de ligar para todos. Aquela parede ficou pintada pela metade porque eu ia terminar no dia seguinte. Comecei um negócio com um amigo (que conheci recentemente), mas ele me passou a perna e levou todo o meu dinheiro. Não posso processar meu inquilino porque não assinei contrato de aluguel. Resolvi me candidatar a vereador mas perdi, porque troquei de partido duas vezes no ano. Abri uma farmácia, mas resolvi transformar em padaria, depois em oficina de motos e agora é uma corretora de seguros, mas nada dá certo porque não persisto no mesmo ramo.
Enfim, o fracassado é um ator mental de origem cultural. Ele aprendeu a sabotar todo e qualquer empreendimento, por mais simples que seja, pois espera ter a pena das outras pessoas como recompensa. Ele interfere no nosso processo mental inserindo frases como "não vai dar certo", "nem tente", "depois faço isso" em todas as resoluções que passem pela crítica da mente. Nesse ponto, precisamos distinguir entre o fracassado e o cauteloso: ter cautela é fundamental em todos os aspectos. O cauteloso caminha, um passo de cada vez, e às vezes volta um ou dois passos para trás para continuar prosseguindo por um caminho mais seguro, mas o cauteloso não para, ele segue até conseguir alcançar seu objetivo. O problema é desistir de tudo o tempo todo, esperando que os outros sintam pena.
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