quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A necessidade de penetrar o Caminho através da prática constante

Pessoas comuns acreditam que os estudos trazem as riquezas. Buda Xaquiamuni ensina que na prática há iluminação. Nunca ouvi falar de ninguém que tenha se tornado membro de lideranças milionárias sem estudar, ou alcançado a iluminação sem praticar.
Embora seja verdade que existam diferentes métodos de treinamento, aqueles baseados na fé ou na compreensão do Dharma, na iluminação súbita ou gradual[1], ainda assim, a iluminação depende de um treinamento. Embora a profundidade e a velocidade de compreensão das pessoas seja diferente, o tesouro é obtido através do estudo acumulado. Nenhuma dessas coisas depende dos soberanos serem superiores ou não, ou da sorte ser boa ou ruim.
Se o tesouro pudesse ser obtido sem estudo, quem iria transmitir o método pelo qual antigos monarcas, tanto em épocas de ordem ou desordem, governaram com sucesso o país?  Caso a iluminação pudesse ser sem treinamento, quem poderia compreender os ensinamentos do Tathagata[2], distinguindo, como ele fez, a diferença entre delusão e iluminação? Embora pratique no mundo da delusão, ainda assim é o mundo da iluminação. Então, pela primeira vez, você perceberá que a jangada do discurso é apenas um sonho passado e será capaz de cortar para sempre a visão antiga de conceitos pessoais que amarrava você as palavras das escrituras.
Buda não impõe esta visão a você. Ela aparece naturalmente a partir de sua prática no Caminho, a prática convida a iluminação. Seu tesouro natural não vem do exterior. Uma vez que a iluminação é una  com a prática, a ação iluminada não deixa traços. Portanto, quando olhar novamente a prática com olhos iluminados, você descobrirá que não há ilusões para serem vistas, apenas uma grande nuvem branca de dez milhões de ri[3] cobrindo todo o céu.
Quando a iluminação está em harmonia com a prática, você não pode desmerecer nem mesmo uma simples partícula de poeira. Se agir dessa maneira você se afastará da iluminação tanto quanto o céu está afastado da terra. Se retornar ao seu Verdadeiro Lar, poderá transcender até mesmo a condição de Buda.
Eihei Dogen
(escrito em 9 de março, segundo ano de Tempuku 1234)

[1] A posição de que a iluminação vinha gradualmente como  resultado de leituras de sutras e práticas acumuladas eram mantidas pela Escola Zen do Norte da China. Esta escola terminou e apenas a Escola Zen do Sul, que pregava a realização da iluminação súbita, permaneceu.
[2] Este é outro nome para Buda Xaquiamuni. Significa uma pessoa que alcançou o ir e vir do Tathagata, o que é, a realidade absoluta que transcende a  multiplicidade de formas do mundo dos fenômenos.
[3] Um “ri” corresponde aproximadamente a uma milha

Fonte: https://aguasdacompaixao.wordpress.com/2009/08/21/textos-de-mestre-dogen-10/

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