terça-feira, 1 de novembro de 2011

Meditar na Rodoviária

Quem precisa viajar bastante, qualquer que seja o motivo, tem uma oportunidade muito grande de praticar o Dharma. As longas esperas em rodoviárias e aeroportos são perfeitas para sentar, acalmar a mente, observar as pessoas, coisas e movimentos à sua volta e meditar profundamente.

A mente fica pulando, julgando e classificando as coisas do jeito dela. Em um determinado momento, ela se cansa, e vem aquela sensação de paz e a conexão com o aqui-agora. Um pouco depois, uma conexão maior, e então temos o Samadhi.

Mesmo em Samadhi, continuamos julgando e classificando as coisas, porém de forma mais silenciosa. Momento de não desistir, não se deixar levar pela torrente de pensamentos que insiste em aflorar à mente. Manter-se no aqui-agora.

Repentinamente, uma conexão maior e percebemos que não há diferença alguma entre as pessoas, todas estão apreensivas, com angústia, esperando seu momento de embarcar. Como prisioneiras, aguardando a porta se abrir. Sentem saudade de seus entes queridos, ficam remoendo acontecimentos do dia. Possuem esperanças e sonhos. Estão em qualquer lugar, menos ali mesmo. No passado ou no futuro, mas não ali no presente. De vez em quando lembram-se de olhar para o relógio, conferem sua passagem, aguardam ser chamadas e voltam ao sonho.

E você também tem os mesmos sentimentos e angústias. Não é diferente das pessoas ao seu redor. Não é melhor nem pior. Aflora-se um profundo sentimento de compaixão por todos os presentes. Você os entende, sabe o que estão sentindo. Quase pode sentir o coração de cada um batendo, como se fossem o seu mesmo. A planta na floreira quebrada um dia morrerá, será jogada fora, virará adubo e nutrirá outra planta, quem sabe uma alface, e quem sabe você sem saber irá comer esta alface, e ela irá fazer parte de seu corpo. Não há diferença entre você e a planta na floreira, ela um dia fará parte do corpo de um ser humano. Deviam tratá-la com mais respeito e dignidade, trocando a floreira, revolvendo e adubando sua terra.

Todas as pessoas ali presentes deveriam ser tratadas com mais respeito e dignidade. Aliás, deveriam SE tratar melhor. São semelhantes, partes de um mesmo todo. Deveriam se ajudar mais, oferecer o lugar, compartilhar alimento, ceder a vez na fila, ajudar alguém a subir no ônibus. São coisas tão básicas... como as pessoas ficaram tão desligadas umas das outras?

Enfim, estar em uma rodoviária movimentada, cheia de gente, é uma excelente oportunidade de aprendizado, compaixão e prática da verdadeira solidariedade.

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